Uma pausa na recuperação
Aqueda de 0,5% no volume de vendas do comércio varejista em agosto, na comparação com julho, interrompe uma sequência de altas que se registrava há alguns meses. No entanto, embora tenha sido avaliado com certo pessimismo por alguns analistas de conjuntura, o resultado não parece interromper a evolução recente do varejo, que, como outros segmentos da economia, vem dando sinais de recuperação. A despeito da queda na comparação mensal, o volume de vendas em agosto foi 3,6% maior do que o de um ano antes. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, cresceu 0,7% em relação a período idêntico de 2016.
É lenta a recuperação do varejo, e ainda persistem indicadores negativos. Comparados com os resultados de julho, os de agosto – apresentados na Pesquisa Mensal do Comércio ( PMC) divulgada na quarta-feira passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – mostram que as vendas caíram em sete das oito atividades pesquisadas. O volume de vendas diminui nos grupos combustíveis e lubrificantes; hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo; tecidos, vestuário e calçados; artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria; livros, jornais, revistas e papelaria; equipamentos e material para escritório, informática e comunicação; e ou- tros artigos de uso pessoal e doméstico. Apenas o grupo de móveis e eletrodomésticos registrou alta (de 1,7%).
Na comparação com as vendas de agosto de 2016, a situação se inverte, pois apenas dois grupos (combustíveis e lubrificantes e livros, jornais e revistas) venderam menos. Já o comércio ampliado, que inclui veículos, motos e peças, além de material de construção, registrou alta tanto de julho para agosto como entre os meses de agosto de 2016 e de 2017.
Houve quem visse nesses números um sinal de esgotamento dos efeitos positivos sobre as vendas do comércio da liberação dos recursos das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que resultou na injeção de mais de R$ 40 bilhões na economia no primeiro semestre. Mesmo que todo o impacto do FGTS já tenha sido absorvido, persistem os efeitos de outros fatores que igualmente vêm impulsionando as vendas. São fatores menos voláteis e de efeitos menos notáveis, mas mais duradouros.
O primeiro deles é a redução da inflação, que, no acumulado de 12 meses, caiu de 7,87% em outubro do ano passado para 2,53% em setembro deste ano. A redução de mais de dois terços em apenas um ano trouxe grandes benefícios para a renda real da população, o que deu confiança e mais folga para administrar o orçamento doméstico.
O mercado de trabalho, atin- gido com algum atraso, mas com grande intensidade, pela crise deixada pelo lulopetismo, igualmente vem se recuperando, ainda que de maneira lenta. Ao mesmo tempo que cai a taxa de desocupação medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua do IBGE, a renda real média habitual, se não cresce de forma expressiva, pelo menos deixou de diminuir. Parte da recuperação do mercado de trabalho é propiciada pelo aumento do emprego informal, mas há também um seguro e contínuo aumento do emprego na indústria de transformação, que oferece salários mais altos e melhores condições de trabalho.
As taxas de juros para o tomador de empréstimo continuam altas, mas vêm diminuindo de maneira contínua desde o final do ano passado, o que ajuda a estimular o consumo.
Os bons resultados do comércio na comparação com o desempenho observado no ano passado se devem a uma base de comparação muito baixa, pois a fase mais aguda da crise pode ter se registrado nos meses finais de 2016. Apesar da melhora recente, as vendas continuam 9,3% abaixo do recorde registrado em novembro de 2014. Mas a recuperação vem sendo puxada por segmentos cujas vendas refletem com mais precisão a melhora das condições financeiras e da disposição da população, como os de móveis e eletrodomésticos e de veículos.