Integrado ao mundo
Próximos passos. Presidente da China abre congresso do Partido Comunista com promessa de construir uma ‘sociedade moderna’ e preparada para uma ‘nova era’; visão do líder chinês inclui economia um pouco mais aberta, mas com controles sociais rigorosos
Ao abrir ontem o 19º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), o presidente Xi Jinping prometeu uma “nova era socialista” para seu país, defendendo um duro combate a qualquer ameaça à autoridade do partido. Ao mesmo tempo, no campo externo, afirmou que a China “se abrirá ainda mais” e dará um trato “igualitário” para as empresas estrangeiras.
Em seu panorama para 2050, o presidente não sinalizou nenhuma esperança de liberalização do regime. “Cada um de nós deve fazer mais para defender a atualidade do partido, do sistema socialista chinês e opor-se a qualquer palavra e ação para miná-los”, ressaltou, diante dos 2,3 mil membros reunidos para a assembleia quinquenal.
Ao abordar seu lugar na comunidade internacional, Xi disse que a China tornará mais flexível a entrada de investimentos estrangeiros, ampliará o acesso ao seu setor de serviços e aprofundará uma reforma de sua taxa de câmbio e de seu sistema financeiro, um agrado ao mercado, ao mesmo tempo fortalecendo as estatais do país. Durante o primeiro mandato de Xi, a China decepcionou muitos que esperavam reformas do setor estatal, onerado por dívidas.
Há cinco anos, quando Xi retirou-se do Grande Salão do Povo como o novo líder da China, seu contido sorriso mal ocultava a atmosfera de crise. A elite do PCC havia sido fustigada por lutas internas e escândalos, subornos e até assassinatos.
Comandantes militares e líderes partidários tornaram-se extremamente corruptos. Os críticos acusaram o predecessor de Xi, Hu Jintao, de hesitar nas punições, enquanto a ira popular se disseminava. Ontem, Xi assegurou que o partido seguirá praticando “tolerância zero” com a corrupção.
Xi abriu o congresso com a certeza de receber um segundo mandato de cinco anos. Depois de passar seu primeiro mandato reforçando o controle sobre a sociedade, ele deve consagrar sua visão autoritária para revitalizar o partido. Desde que assumiu o poder, em 1949, o PCC se rein- ventou em momentos críticos para sobreviver – como após a morte de Mao Tsé-tung e o massacre na Praça da Paz Celestial.
Em seu discurso, Xi mencionou repetidamente as tensões sociais desencadeadas pela desigualdade econômica, poluição e acesso inadequado à saúde, educação e moradia. “Os líderes do partido sempre sentem o perigo próximo, especialmente Xi, e isso não sumiu”, disse Deng Yuwen, ex-editor de um jornal do PCC. “Para Xi, esse estilo de linha dura, centralizado, é a solução e deve ser consolidado.”
Enquanto Mao promoveu a luta de classes e Deng adotou o capitalismo pragmático, a visão de Xi está centrada na restauração da grandeza da China. Na prática, isso representa uma campanha para impor maior disciplina às fileiras do PCC e repressão política fora do partido, incluindo censura mais rigorosa sobre os meios de comunicação, incluindo a internet.
“Com Xi, o PCC está voltado na direção do domínio de um homem forte”, disse David Lampton, diretor de estudos chineses da Johns Hopkins School of Advanced International Studies. “O congresso do partido tem maior probabilidade de se parecer com uma coroação do que uma transição para o segundo mandato.”
Para isso, Xi reforçou o controle sobre possíveis rivais, incluindo bilionários, internet, militares e os 89 milhões de membros do próprio partido. Xi também pediu uma renovação do compromisso com o que chama de “reforma”, o que não significa liberalização econômica.
Sua versão de reforma aponta na direção oposta: revigorar o controle do partido. “Governo, militares, sociedade e escolas, norte, sul, leste e oeste – o parti- do é o líder de todos”, disse.
Minxin Pei, professora do Colégio Claremont McKenna, na Califórnia, afirmou que Xi “passou seus primeiros cinco anos desmantelando o sistema antigo, que ele vê como muito permissivo e corrupto”. “O que Xi quer agora é um Estado disciplinar. Ele impõe regras de disciplina sobre todo mundo”, disse Pei. “E, para exercer o poder dessa disciplina, você precisa ter um Estado de segurança poderoso.”
Para Xi, a queda da União Soviética é uma advertência sobre o que poderá dar errado se o partido da China sucumbir a tais perigos. “Por que a União Soviética desmoronou?”, disse Xi em 2013. “Havia um caos ideológico, o aparato do partido parecia ineficaz em todos os níveis, os militares não estavam mais na liderança do partido.”
Filho de um revolucionário, Xi transmite a sensação de ter herdado a responsabilidade pela preservação do PCC. Desde que assumiu, ele demitiu funcionários por corrupção e supervisionou as investigações de mais de 200 funcionários do alto escalão.