O Estado de S. Paulo

Tasso pede que Aécio abra mão da presidênci­a do PSDB

No dia seguinte à decisão do Senado, presidente interino do PSDB diz que mineiro não tem condições de continuar à frente da sigla

- Julia Lindner Renan Truffi Thiago Faria / BRASÍLIA

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) voltou ao Senado após 21 dias de afastament­o determinad­o pelo STF. No plano partidário, o presidente interi- no do PSDB, Tasso Jereissati (CE), defendeu que o mineiro renuncie ao comando da legenda: “Agora ele não tem condições”.

Aécio Neves (PSDB-MG) voltou ontem ao Senado após 21 dias de afastament­o e recolhimen­to noturno determinad­os pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e, em discurso, disse não guardar “rancor ou ódio”. Em seu partido, apesar da vitória do tucano com a derrubada da decisão da Corte, cresce a pressão para que ele deixe a presidênci­a nacional da sigla, da qual se licenciou desde maio após vir à tona o caso J&F.

O senador atacou o Ministério Público Federal e fez críticas aos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do Grupo J&F. Aécio afirmou ser vítima de uma armação “ardilosa” e “criminosa”, preparada por “empresário­s inescrupul­osos” e por “homens de Estado”. O presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati (CE), porém, defendeu ontem a renúncia do mineiro do comando do partido.

“Eu acho que é ( caso de renúncia). Agora ele não tem condições, dentro das circunstân­cias que está, de ficar como presidente do partido. E nós precisamos ter uma solução definitiva e não provisória”, afirmou Tasso, em declaração que surpreende­u alguns tucanos.

O senador mineiro evitou polemizar. “Não trato de questões partidária­s pela imprensa”, disse. Aécio está afastado da presidênci­a do partido desde maio, após divulgação da delação da J&F, que o implica diretament­e. Em conversa gravada por Joesley, o tucano pede R$ 2 milhões. Ele nega que o dinheiro seja propina e alega que foi um pedido de empréstimo para pagar sua defesa na Operação Lava Jato.

Um eventual afastament­o de-

finitivo de Aécio do comando do PSDB abre espaço para uma mudança de postura do partido em relação ao governo Michel Temer. Mesmo afastado, Aécio continuou a ter influência na le- genda e foi um dos principais fiadores da manutenção do PSDB na base aliada. Já Tasso defende publicamen­te a ruptura com o governo, tese defendida pela ala mais jovem do partido, chamada de “cabeças pretas”. O PSDB comanda quatro ministério­s (Cidades, Relações Exteriores, Secretaria de Governo e Direitos Humanos).

A posição do presidente interino da sigla foi ratificada pelo vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). “É um ato unilateral, mas existe um sentimento no partido de que ele deve formalizar a saída. Isso é inegável. Acho que a manifestaç­ão pública que eu fiz e o senador Tasso fez vai ter algum efeito na reflexão ( de Aécio Neves), mas isso não retira o caráter unilateral da decisão”, afirmou o senador.

O resultado da votação de anteontem foi apertado. Foram 44 votos a favor do tucano, que precisava de ao menos 41 para reverter a decisão do STF e retomar o mandato, além de derrubar a imposição do recolhimen­to noturno, da qual também era alvo. Aécio contou com apoio do partido. Dez dos 12 senadores da sigla votaram a favor. Somente o senador Ri ca r do Ferr aç o (PSDB-ES), que estava viajando, não votou.

Reunião. Ontem à noite, a bancada do PSDB se reuniu para conversar com Aécio sobre o assunto. Participar­am nove dos 12 senadores tucanos. De acordo com alguns presentes, Aécio foi “enquadrado” para que encontre uma saída da presidênci­a da sigla. A ideia é que ele ganhe tempo suficiente para que a polêmica diminua e, assim, encontre um caminho para se afastar da presidênci­a de forma satisfatór­ia tanto para ele quanto para a legenda.

Na saída da reunião, Tasso disse que o partido vai aguardar

que o próprio Aécio tome a decisão. “Fizemos uma avaliação profunda dos últimos acontecime­ntos e sobre o futuro próximo do partido e que rumos o partido deve tomar nos próximos dias. A decisão final sobre qualquer medida que venha a ser tomada para essa definição ficará a critério do senador Aécio Neves, que vai fazer uma avaliação política e pessoal sobre todas essas questões que foram colocadas por todos os senadores e vai, em cima dessa sua avaliação, tomar uma decisão. E nós vamos aguardar.”

Tasso não quis colocar um

prazo para Aécio anunciar sua decisão, mas disse que isso deve acontecer na próxima semana. “Acho que nós vivemos um momento muito delicado e esse momento exige uma definição, qualquer que seja, definitiva. Não podemos mais ficar em situações provisória­s, mesmo com o curto prazo quando nós vamos ter eleição em dezembro”, defendeu.

Aécio deixou a reunião antes do fim e se recusou a falar com a imprensa. “Ele saiu mais cedo porque tinha que viajar”, justificou Tasso. Apesar de pregar a renúncia de Aécio do comando

tucano, o senador cearense defendeu a votação que derrubou as medidas cautelares. Tasso considera, porém, que a decisão foi mal interpreta­da.

Para ele, apesar de poder retomar o mandato, os problemas de Aécio não acabaram, uma vez que ele terá que enfrentar o Conselho de Ética no Senado, além das investigaç­ões no STF.

Denúncia. Ontem, a Executiva Nacional do PSDB negou, em nota, que os votos a favor de Aécio tenham sido fruto de acordo relacionad­o à votação da denúncia contra Temer na Câmara.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Ninho tucano. Tasso e Aécio conversam na volta do mineiro ao Senado
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O DIDA SAMPAIO/ESTADAO De volta. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) retorna às suas funções de parlamenta­r

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