O Estado de S. Paulo

Projeto prevê reajuste de plano de saúde de idosos

Congresso. Pela regra atual, preço maior de mensalidad­e é proibido após cliente fazer 60 anos; relatório apresentad­o ontem por deputado sugere cinco parcelas de aumento depois dessa faixa etária. Proposta ainda receberá contribuiç­ões de outros parlamenta­r

- Ligia Formenti / BRASÍLIA COLABOROU FABIO LEITE

Proposta de reformulaç­ão da lei de planos de saúde apresentad­a na Câmara prevê o fim da proibição do reajuste de mensalidad­e após os 60 anos. O texto permite que o aumento ocorra em cinco parcelas quinquenai­s. Também está prevista a redução do valor de multas pagas pelas operadoras em caso de negativa de atendiment­o. A proposta, que tem aprovação do ministro Ricardo Barros (Saúde), poderá ser modificada pelos deputados.

Relatório apresentad­o ontem na Câmara dos Deputados para reformular a Lei de Planos de Saúde prevê o fim da proibição do reajuste de mensalidad­e após os 60 anos. O texto, preparado pelo deput ad o Ro g é r i o Ma ri n h o (PSDB-RN), permite que o reajuste seja feito, passada essa faixa etária, em cinco parcelas quinquenai­s. O texto também prevê reduzir o valor de multas pagas pelas operadoras em caso de negativa de atendiment­o.

O relatório, com quase 200 páginas, muda de forma significat­iva a lei atual, de 1998. Feito após 12 reuniões públicas, o texto agora aguarda a contribuiç­ão de deputados. Elas poderão ser feitas por meio de destaques e votos em separado.

No reajuste, para evitar abusos, a proposta estabelece que o valor da última faixa de aumento por idade seja, no máximo, seis vezes maior do que a mensalidad­e paga pelo grupo mais jovem. Dos 47,3 milhões de usuários de planos, 13% são idosos.

A ideia, que tem aprovação do ministro da Saúde, Ricardo Barros, é vista com cautela por especialis­tas de Saúde e Defesa do Consumidor. Ao Estado, Barros, afirmou ser favorável à revisão. “Não tem almoço grátis”, disse ele, na ocasião.

“É preciso avaliar ainda o texto para saber se a medida será benéfica ou não ao usuário do plano”, diz Igor Britto, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Já Solange Mendes, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementa­r, elogia. “É um ganho enorme para o consumidor. Em vez que de ter reajuste de mil moedas em um único ano ele vai ter aumento de 200 moedas durante cinco anos. E assim gradativam­ente até completar 20 anos (após os 60).”

Além do fim do veto do reajuste a idosos, o texto prevê reduzir o valor das multas pagas por operadoras em caso de negativa de atendiment­o, um dos motivos que mais levam consumidor­es a acionar a Justiça. Pela proposta, a multa não poderá exceder dez vezes o valor do procedimen­to. E, em caso de reincidênc­ia, no máximo 30 vezes o valor do procedimen­to. Para Mário Scheffer, da Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo (USP), isso incentiva a negativa. “A lei tem como finalidade justamente impedir que uma conduta seja posta em prática. A proposta dá recado oposto: recusem que a multa não será muito alta.”

Marinho ainda prevê que uma liminar para conceder tratamento negado pelo plano seja dada só após o juiz ouvir segunda opinião. “Imagine quando se trata de vaga na UTI ou quimiotera­pia”, alerta Scheffer.

Recursos. O texto do deputado também sugere mudar o ressarcime­nto ao Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, toda vez em que um paciente com plano é atendido no SUS, a operadora é obrigada a reembolsar o procedimen­to feito à União. A verba é então encaminhad­a ao Fundo Nacional de Saúde e aplicada novamente no SUS. A medida é para evitar que, em procedimen­tos mais caros, se empurre o cliente para a rede pública.

O problema é que boa parte dos recursos é questionad­a na Justiça. Para tentar reduzir isso, são propostas alterações. A primeira é fazer com que a operadora pague ao próprio prestador de serviço – um hospital, por exemplo – o valor do procedimen­to, com multa de 25%. Marinho avalia que isso deixa mais ágil e justa a arrecadaçã­o. Sugere ainda que o reembolso seja aos Estados e não ao fundo nacional. Ao Estado, Barros disse não ver problema nisso.

O deputado também prevê que planos ofereçam vacinação e que usuários tenham desconto quando participar­em de programas de promoção da saúde.

Populares. O relatório também faz referência à segmentaçã­o – planos mais baratos com cobertura reduzida, o que tem sido defendido por Barros.

Para Arthur Rollo, da Secretaria Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça, esse modelo preocupa. “Defendemos a cobertura ampla do jeito que é hoje e o barateamen­to dos planos com outros critérios e não planos com cobertura restrita, que exclui determinad­as doenças ou tratamento­s.” O órgão vai analisar o relatório e dar um parecer até novembro.

Em nota, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) disse que o projeto, como um todo, “é essencial para a sustentabi­lidade do setor”. Procurada, a Agência Nacional de Saúde Suplementa­r (ANS) disse que ainda analisa o relatório. /

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