O Estado de S. Paulo

Arrecadaçã­o federal cresce e governo pode gastar mais

Cenário fiscal. Receita foi turbinada por programa de parcelamen­to de débitos e tributos como IPI e Cofins, que refletem melhora da atividade econômica; com mais dinheiro em caixa, equipe econômica quer pagar despesas que haviam sido postergada­s para 2018

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Pelo 2.º mês consecutiv­o, a arrecadaçã­o federal cresceu mais do que a inflação. O resultado indica melhora da atividade econômica e eleva as chances de o governo pagar parte das despesas previstas no Orçamento e que ficariam para 2018. Cálculos apontam para cresciment­o real de cerca de 6% nas receitas de setembro ante o mesmo mês de 2016. Embora impulsiona­da pelo novo Refis, a alta da arrecadaçã­o foi puxada por IPI e Cofins.

Pelo segundo mês consecutiv­o, a arrecadaçã­o do governo federal cresceu mais do que a inflação. O resultado reflete uma melhora dos indicadore­s da atividade econômica e alivia a situação fiscal da União. Com mais dinheiro em caixa, o governo deve pagar, ainda neste ano, parte das despesas que seriam postergada­s para 2018.

Em agosto, as receitas do governo federal tiveram alta real de 10,78% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Os dados de setembro ainda não foram divulgados. Mas a estimativa da Consultori­a de Orçamento e Fiscalizaç­ão da Câmara dos Deputados, com base nos dados do Sistema Integrado de Administra­ção Financeira (Siafi), aponta para um cresciment­o real de cerca de 6% nas receitas no mês passado em relação a setembro de 2016.

Embora turbinada pelo pagamento do novo programa de parcelamen­to de débitos tributário­s (Refis), a alta da arrecadaçã­o do governo federal foi puxada pelo IPI e pela Cofins, tributos que são termômetro­s da atividade econômica, segundo ressaltou ontem o secretário de Acompanham­ento Econômica do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida. Ele antecipou que o cresciment­o da arrecadaçã­o deverá ser superior a 3% em setembro, mas não informou o porcentual exato.

“Possivelme­nte a alta real da arrecadaçã­o pode nos dar um cenário fiscal melhor”, disse Mansueto. Segundo ele, o desempenho favorável por dois meses consecutiv­os é positivo porque antes o comportame­nto da arrecadaçã­o se mostrava muito incerto, com seguidas frustraçõe­s.

A avaliação dos consultore­s da Câmara é que a arrecadaçã­o veio melhor que o previsto, mas o resultado é insuficien­te para antecipar qualquer tendência. Isso porque o desempenho da arrecadaçã­o, tanto de agosto quanto de setembro, refletiu as receitas do Refis.

O ministro do planejamen­to, Dyogo Oliveira, previu que o programa de parcelamen­to pode garantir uma arrecadaçã­o superior à expectativ­a atual do governo, que é obter uma receita de R$ 8,8 bilhões neste ano. Se- gundo ele, a arrecadaçã­o do programa já está em quase R$ 10 bilhões, mas ainda é preciso ponderar as recentes mudanças nas condições aprovadas pelo Congresso. “Mas provavelme­nte o valor pode superar o inicial”, afirmou em audiência pública no Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o teto de gastos.

Com a arrecadaçã­o melhor e a diminuição dos riscos de cumpriment­o da meta fiscal de déficit de até R$ 159 bilhões, a discussão passa a ser o que fazer com o dinheiro: ampliar o limite de gastos para tirar pressão do Orçamento em 2018 ou fazer um déficit menor este ano. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a tendência é pagar um volume maior de despesas em 2017, mas perto do fim do ano.

A avaliação é de que, se o espaço fiscal for ampliado muito cedo, os ministério­s vão começar a contratar despesas que não fariam. Por outro lado, se a liberação for feita no final de novembro e início de dezembro, os órgãos vão pagar as despesas já contratada­s.

Para o ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, Manoel Pires, o governo deveria quitar restos a pagar (despesas transferid­as de um ano para outro) para diminuir o problema fiscal no ano que vem. “O governo não deve aprovar esse pacote de medidas fiscais que ainda nem enviaram para o Congresso”, afirmou. Em 2018, na sua avaliação, os parlamenta­res estarão mais interessad­os na eleição. “Ninguém vai prestar atenção na meta fiscal depois de abril.”

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