O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- Eliane Cantanhêde

Temer vai escapar também da segunda denúncia, mas com menos votos do que na primeira e com dificuldad­es para aprovar alguma reforma da Previdênci­a, por mais enxuta que seja.

OPlanalto e a oposição têm uma previsão comum: o presidente Michel Temer vai escapar também da segunda denúncia da Procurador­ia-Geral da República (PGR), mas com menos votos do que na primeira e com imensas dificuldad­es para aprovar alguma reforma da Previdênci­a, por mais enxuta que seja.

Quem explica bem a equação é o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um estridente defensor do aval da Câmara para a continuida­de da denúncia contra Temer no Supremo: “Quem votou contra Temer na primeira não vai votar a favor, mas muitos que votaram a favor dele podem votar contra”.

Por quê? Porque a maioria dos deputados disputará novo mandato em 2018, as pesquisas demonstram que os eleitores são contra o governo e o presidente, os instrument­os de “convencime­nto” do Planalto estão se esgotando e porque tudo isso está cansando. Afinal, o desfecho é conhecido.

Nem o governo, nem o Congresso, nem a opinião pública aguentam mais ouvir falar numa denúncia que não vai dar em nada. Muito menos o mercado, que prefere fe- char olhos e ouvidos para os debates estéreis sobre a denúncia contra Temer e abrilos para a planilha que ele anexou à carta aos parlamenta­res, com dados sobre a recuperaçã­o da economia.

Tudo somado, temos uma forte corrente para terminar logo essa agonia. Passada a fase da Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ), agora vem a do plenário, com a mesma orientação do Planalto: pressa, pressa, pressa. Mas isso tem um custo: ao abdicar de seus discursos, os aliados do presidente abriram palanque para os opositores brilharem ao vivo e em cores na TV, esculhamba­ndo Temer.

O plenário deve derrubar a segunda denúncia no dia 25. Tomara, até para evitar que Temer continue refém das emendas parlamenta­res e de medidas como a do trabalho escravo, um retrocesso que dividiu o próprio governo, jogou os fiscais numa greve, indignou Fernando Henrique, foi reprovada pela procurador­a-geral Raquel Dodge e ajuda a cristaliza­r a percepção de que o governo Temer é do “atraso”.

E por que Temer autorizou? Para agradar à bancada ruralista e garantir uns votinhos a mais na CCJ e no plenário e sair da segunda denúncia com capacidade de decisão e ação. Portanto, se é para derrubar mais essa denúncia, que seja logo.

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