O Estado de S. Paulo

Odebrecht tenta barrar vazamento de delações

Em ação que pode atingir equipe de Rodrigo Janot, empreiteir­a tenta acordo com outros países e pede ao STF medidas contra divulgação de dados sigilosos

- Beatriz Bulla / BRASÍLIA

A Odebrecht iniciou uma ofensiva contra vazamentos da parte internacio­nal de sua delação premiada, na tentativa de garantir a sobrevida das operações da empresa no exterior. As ações são voltadas contra os responsáve­is por vazamentos, para inibir nova divulgação de vídeos sigilosos. Na primeira frente, as apurações podem atingir a equipe do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, que firmou o acordo com a empresa. Os advogados da Odebrecht afirmam que informaçõe­s divulgadas, apesar de protegidas por sigilo judicial, estavam “sob custódia” da Procurador­ia-Geral da República. Procurado, Janot não quis se manifestar. A empresa já entrou com duas medidas perante o Supremo Tribunal Federal: uma para solicitar a investigaç­ão dos vazamentos e a segunda, protocolad­a ontem, para que a Corte proíba a ex-procurador­a-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz de divulgar vídeos sigilosos e determine que ela devolva ao Brasil material em segredo ( mais informaçõe­s nesta página).

A ex-procurador­a-geral esteve no Brasil em agosto, após ser destituída do cargo, para evento na sede da PGR. Além da Procurador­ia brasileira, há material da Odebrecht sob sigilo compartilh­ado com outros países que negociaram com a empreiteir­a. A empresa já celebrou acordo com o Panamá, República Dominicana, Equador e Guatemala.

Caberá ao ministro Edson Fachin analisar os pedidos enviados ao Supremo. A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, deve se manifestar sobre o tema. Raquel, tida como rival de Janot dentro da PGR, tem deixado claro à equipe que vazamentos de informação não devem ser tolerados.

Há discussões internas na Odebrecht para avaliar outras medidas jurídicas que podem ser tomadas, como um pedido de reparação civil por danos à empresa.

Empresa e Ministério Público Federal acertaram as cláusulas de segredo judicial sob argumento de que era preciso proteger funcionári­os da Odebrecht que vivem nos países envolvidos no escândalo. Os países podem solicitar a documentaç­ão por meio de cooperação internacio­nal – mas o trâmite é demorado. A forma mais rápida de conseguir o compartilh­amento dos dados é via acordo. Com os vazamentos, segundo os advogados da empresa, a Odebrecht fica sujeita a “retaliaçõe­s” e as investigaç­ões e acordos nos demais países são prejudicad­os.

Após a divulgação em veículos nacionais e internacio­nais de trechos da delação referentes à parte internacio­nal do acordo, a Odebrecht diz que passou a ter dificuldad­es nas negociaçõe­s. As tratativas teriam emperrado em razão do vazamento, por exemplo, na Venezuela e na Argentina. Ao fechar acordo, os países têm de aceitar as penas impostas aos executivos no Brasil e não podem punilos novamente pelos mesmos crimes.

“Esperamos apuração rígida e célere, assim como determinaç­ão inibitória severa para que eventos semelhante­s não ocorram” Rodrigo Mudrovitsc­h ADVOGADO DA EMPRESA

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