Maia se diz vítima de ‘intrigas’ do governo
Presidente da Câmara afirma a Temer que não pretende indicar nome para o BNDES
Após a tensão dos últimos dias com o governo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem ao presidente Michel Temer que não quer indicar ninguém para o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nem vai aceitar cargos. Convidado para uma conversa com Temer no Palácio do Planalto, Maia se queixou das “intrigas” contra ele e afirmou não estar sendo respeitado.
A informação de que o Planalto avalia substituir o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, emplacando no comando do banco um afilhado político de Maia, irritou ainda mais o deputado. A notícia foi publicada pelo Estado na edição de ontem. Fora da agenda oficial, a reunião entre Temer e Maia ocorreu horas depois de o presidente almoçar com Rabello de Castro e receber reclamações, de integrantes da equipe econômica, de que interferências políticas poderiam prejudicar o BNDES.
“Querem passar a ideia de que estou atrás de cargos, o que não é verdade”, disse Maia ao Estado. “Se querem mudar, mudem, mas isso não é problema meu. Não estou pedindo a cabeça de ninguém.”
Após o encontro, surgiram rumores de que o deputado havia tratado ali do rito de votação da segunda denúncia contra Temer – por obstrução da Justiça e organização criminosa –, marcada para a próxima quarta-feira, dia 25, no plenário da Câmara. Em nota oficial, Maia não escondeu a contrariedade com o que chamou de “versão” dos fatos e negou que a denúncia tenha sido objeto da conversa no Planalto.
“Essa versão é falsa e quem a divulgou deve vir a público dizer por que o fez e com qual intenção”, escreveu Maia, ao sustentar que “o autor da falsa versão disseminada pelo Palácio do Planalto precisa repor a verdade dos fatos”. Nos bastidores, aliados do deputado contam que ele atribui os vazamentos aos ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Eliseu Padilha (Casa Civil), tam-
Rodrigo Maia (DEM-RJ) Kátia Abreu (PMDB-TO)
bém alvos de investigação.
Maia afirmou no comunicado que Temer o chamou ao palácio “para esclarecer episódios recentes que deram margem a incompreensões”. Disse, em tom duro, que não havia senti- do algum em tratar do rito processual de votação com o presidente de outro Poder, “muito menos quando é um deles que está sendo processado e julgado com seus ministros”.
Embates. Na lista dos embates entre Maia e Temer estão as críticas que o presidente da Câmara fez ao governo após uma manobra do Planalto para que não fosse votada uma medida provisória autorizando o Banco Central a firmar acordo de leniência com instituições financeiras. Para acalmar o deputado, às vésperas da votação da segunda denúncia contra Temer, o Executivo autorizou a substituição da MP por um projeto de lei, apresentado pelo deputado Pauderney Avelino (DEM-AM).
Em setembro, Maia já havia provocado mal-estar no Planalto ao dizer que o governo e a cúpula do PMDB tinham dado uma “facada nas costas” do DEM quando assediaram parlamentares que já estavam em negociação com seu partido. Na época, ele também reclamou de “desrespeito” por parte da equipe de Temer. Desde então, já repetiu algumas vezes esse repertório.
Na conversa de ontem, o presidente da Câmara também cobrou de Temer uma nova agenda de desenvolvimento e disse que o governo tem dado passos errados, precisando se “reinventar”. Na avaliação de auxiliares do presidente, porém, Maia faz esse discurso porque é candidato à ree- leição, em 2018, e quer se descolar da impopularidade de Temer.
“Querendo ou não, o Rodrigo é uma opção institucional para o País”, afirmou a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que faz oposição a Temer e tem organizado encontros de parlamentares com Maia. “Nessas reuniões, nós discutimos o momento político e as dificuldades. Agora, quem decide o que vai acontecer é o plenário da Câmara.”
“Querem passar a ideia de que estou atrás de cargos, o que não é verdade.”
PRESIDENTE DA CÂMARA
“Querendo ou não, Maia é uma opção institucional para o País.”
SENADORA