O Estado de S. Paulo

Governo corteja Doria e libera recursos para SP

Tratamento recebido pelo prefeito foi diferente ao dado ao governador Geraldo Alckmin, que quer se descolar da imagem de ‘aliado’ de Temer

- Pedro Venceslau

Enquanto o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), enfrenta dificuldad­es para conseguir do governo federal a liberação de recursos para as obras do Rodoanel, o prefeito da capital, João Doria (PSDB), recebe de ministros a garantia de investimen­tos na administra­ção municipal.

Após um jantar reservado de duas horas anteontem com o presidente Michel Temer, Doria disse que um dos temas tratados foi uma linha de crédito bilionária do BNDES para um programa de asfaltamen­to das ruas da cidade. “Tratamos do empréstimo do BNDES para o asfalto no valor de R$ 1 bilhão, que vai sair. Está bem avançado. Vai ser aprovado antes do fim do ano e no começo do ano que vem (o programa) será colocado em prática”, disse Doria ao Estado.

Do ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), o prefeito ouviu a promessa de liberação de R$ 162 milhões para a construção de 22 creches e três Centros Educaciona­is Unificados (CEUs) na cidade. No fim do encontro, Doria gravou um vídeo ao lado do ministro falando do investimen­to.

Na mesma linha, o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), prometeu liberar R$ 50 milhões para a construção de unidades habitacion­ais populares na capital. Em um vídeo ao lado de Doria, o titular da pasta confirmou o investimen­to e ainda elogiou o colega tucano: “É um prazer trabalhar com a equipe competente do prefeito”.

Diferente. A boa vontade da administra­ção Temer não foi a mesma quando Alckmin esteve em Brasília na semana retrasada cobrando a parte do governo federal – R$ 620 milhões – nas obras do Rodoanel. Na ocasião, Temer “ficou de verificar” a situação e o Ministério dos Transporte­s não apresentou um cronograma de pagamento.

Em caráter reservado, aliados de Alckmin creditam a má vontade de Temer à decisão do governador de não mobilizar votos entre os deputados paulistas para barrar a denúncia da Procurador­ia-Geral da República (PGR), por obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa, contra o presidente no plenário da Câmara.

“O governador Geraldo Alckmin não se movimentou e não vai se movimentar para pedir votos aos deputados”, disse o deputado Silvio Torres (PSDB), secretário-geral do PSDB e aliado do governador.

Questionad­o se Temer pediu ajuda na votação sobre a denúncia da PGR, Doria desconvers­ou: “Não tratamos desse assunto. Não houve solicitaçã­o da parte dele, portanto não houve resposta ao que não foi solicitado”.

A avaliação dos tucanos é de que Doria não tem a mesma influência na bancada que Alckmin, mas representa hoje um contrapont­o a seu padrinho político. Enquanto o governador, que é pré-candidato à Presidênci­a da República, se movimenta com independên­cia em relação ao Palácio do Planalto, o prefeito, que também pleiteia a vaga, se coloca como um aliado confiável e afinado com a ala governista do PSDB. Pl an o s . Dor i a é vi s t o n o PMDB e em parte do DEM como um potencial candidato à Presidênci­a da situação em 2018. Já Alckmin espera disputar por seu partido, com apoio do PSB, com discurso de centro-esquerda e sem o selo de aliado de Temer.

Na disputa interna pelo controle do PSDB, Doria se reapro- ximou de Aécio Neves e alinhou-se com o grupo dos “cabeças brancas”, que defende a manutenção da coalizão dos tucanos com Temer e o PMDB.

Para aliados do prefeito, a aliança com esse campo pode ser a única chance de Doria conseguir a indicação da legenda para disputar à Presidênci­a no próximo ano.

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MARCOS CÔRREA/PR

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