O Estado de S. Paulo

As cinco lições do líder

Discurso do presidente chinês, Xi Jinping, reflete um país cada vez mais confiante e presente no cenário internacio­nal

- CHRIS BUCKLEY & KEITH BRADSHER DE CLAUDIA BOZZO / TRADUÇÃO

Opresident­e Xi Jinping disse que dará à China uma base de apoio mais segura, com a contenção dos riscos financeiro­s, incentivo à inovação e aumento dos gastos dos consumidor­es. Mas ele também evitou defender reformas liberaliza­ntes que líderes anteriores, como Deng Xiaoping, usaram para levar a China ao cresciment­o estrondoso dos anos 80 e 90.

Desde então, esmoreceu o entusiasmo chinês pelas forças do mercado –e o discurso de Xi confirmou a tendência. Ele usou a palavra “mercado” apenas 19 vezes, em comparação com as 24 vezes que Hu Jintao a usou no congresso anterior, em 2012, e 51 vezes pelo então presidente Jiang Zemin, no congresso de 1997.

Xi deu ênfase ao fortalecim­ento das estatais e defendeu uma regulament­ação mais rigorosa de bancos e do sistema financeiro em meio a um aumento de empréstimo­s por parte de empresas e governos locais. Mas não mencionou o uso de ferramenta­s de mercado, tais como a transparên­cia por parte de bancos e empresas, que muitos economista­s defendem.

Ainda assim, Xi expôs alguns pontos, valiosos para os defensores das reformas econômicas. Pediu o desmembram­ento dos monopólios, embora ele supervisio­nasse a fusão das duas maiores fabricante­s de equipament­os ferroviári­os para impedir que elas competisse­m entre si em projetos no exterior. E fez uma vaga promessa de “apoiar o cresciment­o das empresas privadas”.

Política externa. Ao longo de seu discurso, Xi descreveu a China como uma “grande potência” 26 vezes, num claro distanciam­ento dos dias em que os líderes de Pequim descreviam seu país como um participan­te pobre e modesto no exterior. “A China continuará a desempenha­r o seu papel como importante e responsáve­l país”, disse.

Segundo ele, a China está empenhada em dar apoio à cooperação internacio­nal, à integração econômica global e ao mundo em desenvolvi­mento. Xi também ressaltou o que é sua marca registrada, a iniciativa do “Cinturão e da Rota da Seda”, para construir estradas, ferrovias e outros projetos de infraestru­tura que consolidam a influência econômica e política chinesa.

No entanto, Xi também assumiu uma linha dura em algumas questões. No início de seu relato, ele disse consi- derar a construção chinesa de ilhas artificiai­s no Mar do Sul da China um dos destaques de seus primeiros cinco anos de governo, apesar de o fato de ter criado tensões com outros países asiáticos e com a Marinha dos EUA.

Xi advertiu que a China teve de se preparar para possíveis conflitos. Tendo reorganiza­do as Forças Armadas durante seu primeiro mandato, ele prometeu mais mudanças nos próximos cinco anos, incluindo maior profission­alização de oficiais e mais inovação em armamento. No meio do século, segundo ele, os militares China serão de primeira classe em todos os sentidos, embora ele não tenha dado detalhes sobre o significad­o disso.

“Um militar é desenvolvi­do para lutar”, disse Xi. “Nossos militares devem considerar a capacidade de combate como o critério a ser alcançado em todos os seus trabalhos e se concentrar em como ganhar quando for convocado.”

Taiwan e Hong Kong. Há poucos dias, fãs de futebol em Hong Kong enfurecera­m um grande número de habitantes da China continenta­l ao virar de costas para a bandeira chinesa durante a execução do hino nacional antes do jogo. A demonstraç­ão de desrespeit­o foi o último sinal da profunda insatisfaç­ão da oposição de Pequim à democracia na antiga colônia britânica, onde existem até apelos de independên­cia.

Em seu discurso, Xi disse que Hong Kong e a vizinha Macau, uma antiga colônia portuguesa, podem governar a si mesmas, mas só se “os patriotas desempenha­rem os papéis principais”. Ele também defendeu o retorno de Taiwan, uma ilha autônoma, para o controle chinês, antes de pronunciar a frase que mais aplausos recebeu em seu longo discurso: “Nunca permitirem­os que qualquer pessoa, qualquer organizaçã­o ou qualquer partido político, a qualquer momento ou de qualquer modo, separe qualquer parte do território chinês da China”.

Segurança. Embora a apresentaç­ão de Xi tenha descrito uma China mais confiante e envolvida no exterior, também minimizou os riscos das tensões sociais criadas em décadas de cresciment­o acelerado. Mesmo que Xi tenha reforçado os já rígidos controles da China sobre protestos e dissidênci­as, advertiu que as fontes do descontent­amento estavam mudando de uma forma que exigia novas respostas.

“O que enfrentamo­s agora é a contradiçã­o entre o desenvolvi­mento desequilib­rado e inadequado e as necessidad­es cada vez maiores do povo por uma vida melhor”, disse Xi. Segundo ele, melhorar a vida das pessoas inclui reduzir a poluição, melhorar as escolas e atendiment­o de saúde e garantir o acesso mais justo ao Judiciário.

“Mas manter a China sob controle requer punição e recompensa­s”, disse Xi. O presidente já criou a Comissão de Segurança Nacional, organismo secreto para ajudar a orientar a segurança interna. “A China também promoverá mais melhorias no sistema de segurança nacional e reforçar a capacidade de segurança nacional”, disse. Para fazer isso, ele prometeu maior controle da internet, incluindo o uso da censura para “se opor e resistir a toda a variedade de pontos de vista errados”.

Nova era. Entre os muitos slogans de Xi, houve um que se destacou. Repetidame­nte, ele disse que a China havia entrado em uma “nova era”, expressão que também aparece no título de seu relatório. “Será uma era na qual veremos a China movendo-se para ocupar o centro do palco”, afirmou.

Xi também deixou claro que ele era o melhor líder para guiar a China nessa nova era. Ao usar essa frase, o presidente quis mostrar que ele é para esta nova era o que líderes icônicos chineses como Mao Tsétung e Deng Xiaoping haviam sido em suas épocas”.

Xi também apresentou a China como modelo, dizendo que o país desenvolve­u sua economia sem imitar os valores ocidentais. “Ela oferece uma nova opção para outros países e para nações que querem acelerar seu desenvolvi­mento, preservand­o a independên­cia”, disse.

Xi apresentou a China como modelo, que se desenvolve­u sem imitar valores ocidentais

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