Amazônia: 9% do desmate vêm da mineração
Estudo é o primeiro a mensurar consequências da atividade na região; corte da floresta se estende além das lavras
O debate que se acendeu no País em agosto sobre os riscos da mineração à Floresta Amazônica, por ocasião da tentativa do governo federal de extinguir a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), acaba de ganhar argumentos científicos. O primeiro estudo já feito a mensurar o papel da mineração sobre o desmatamento da Amazônia revelou que a atividade foi responsável – direta e indiretamente – por 9,2% de toda a perda florestal registrada no bioma entre 2005 e 2015.
O alerta foi dado por um grupo de pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, da Austrália e do Brasil em estudo publicado ontem na revista Nature Communications. O trabalho foi liderado por Laura Sonter, que fez a pesquisa em seu pós-doutorado na Universidade de Vermont (EUA).
Foram analisadas imagens espaciais e as mudanças na paisagem em torno das 50 maiores minas ativas da Amazônia – só foi levada em conta a mineração autorizada; garimpos ilegais ficaram de fora. A ideia era medir não só o impacto imedia- to no ponto da lavra, onde a floresta é cortada para a exploração mineral, mas o desmate induzido para o funcionamento de toda a operação.
A descoberta é que o corte se estende por até 70 quilômetros além das fronteiras das lavras, em razão do estabelecimento da infraestrutura – como estradas e ferrovias – e da expansão urbana de suporte ao trabalho.
Nos dez anos avaliados, o desmate total induzido pela mineração foi de 11.670 km², 90% fora do local de extração. “Era sabido que existia influência, mas nunca havia sido mensurada. Normalmente se pensa só no buraco, na cava, mas não é só isso. Junto com mineração vem toda a infraestrutura associada”, explica Britaldo SoaresFilho, da Universidade Federal de Minas Gerais, um dos autores do trabalho.
Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não quis comentar a pesquisa. A pasta de Minas e Energia não se manifestou.