O Estado de S. Paulo

MEC reformula estágio de professore­s

Programa vai ofertar a alunos de licenciatu­ra 80 mil bolsas com valor previsto de R$ 400; resultado depende de supervisão, diz especialis­ta

- Leonencio Nossa / BRASÍLIA Isabela Palhares

O Ministério da Educação (MEC) lançou ontem o Programa de Residência Pedagógica, que vai ofertar 80 mil bolsas para que estudantes de graduação façam estágio em escolas do ensino básico. A medida é uma reformulaç­ão do Programa Institucio­nal de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) – criado em 2007 e que teve seu tamanho reduzido desde 2014 – e faz parte da Política Nacional de Formação de Professore­s, que visa a qualificar docentes.

Entre as ações anunciadas, também está a flexibiliz­ação das regras de acesso ao Programa Universida­de para Todos (ProUni) para preencher 20 mil vagas ociosas – das 56 mil ofertadas – em licenciatu­ras de faculdades particular­es. A partir do próximo ano, professore­s que desejam cursar uma segunda licenciatu­ra pelo ProUni não precisarão comprovar renda. Diagnóstic­o feito pelo MEC identifico­u, por exemplo, que quatro em cada dez professore­s que dão aula de Língua Portuguesa não têm formação adequada para a disciplina.

“O que estamos apresentan­do é um conjunto de ideias simples e práticas que podem mudar a condição dos professore­s”, disse o ministro da Educação, Mendonça Filho.

Já há estágio curricular obrigatóri­o em licenciatu­ras, mas nem sempre com bolsa. A residência não será obrigatóri­a e o aluno poderá entrar no programa a partir do 2.º ano. O valor das 80 mil bolsas deverá ser de R$400 mensais. O universo de alunos em cursos de formação docente é de quase 1,5 milhão.

“Pesquisas indicam que a qualidade do professor é o que mais influencia a melhoria do aprendizad­o”, disse a secretária executiva do MEC, Maria Helena Castro. O programa se concentrar­á, especialme­nte, nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática, disciplina­s que mais ocupam as grades das escolas.

Entre os docentes que dão aula dessas matérias do 6.º ao 9.º ano do ensino fundamenta­l e ensino médio, só 59,2% e 50,4%, respectiva­mente, têm formação adequada.

Desafios. Mozart Ramos, do Instituto Ayrton Senna, acredita que é positivo entrar em contato com a prática, mas destaca a necessidad­e de boa supervi-

são. “O sucesso vai depender das credenciai­s da escola onde a residência será feita e do acompanham­ento. A escola tem de estar preparada e em condições de ser espaço de aprendizad­o, como nos hospitais credenciad­os para a residência médica.” Segundo Maria Helena, o detalhamen­to do formato da residência ainda está em discussão.

“É necessário entender quem é esse aluno da licenciatu­ra, em sua maioria de baixa renda e que precisa de apoio financeiro”, diz Paulo Carrano, professor da Universida­de Federal Fluminense (UFF) e da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação.

Para Nilson Cardoso, do Fórum Nacional de Coordenado­res do Pibid, é um erro substituir o programa atual pela residência. “Nosso desenho era o de desenvolve­r projetos em parceria com escolas, sob supervisão e orientação das universida- des. Uma estratégia não deveria substituir a outra”. Em junho, o Pibid tinha 58,3 mil bolsistas – 14,8% a menos do que em 2015.

A Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp) foi uma das pioneiras no País a instituir, em 2009, a residência como obrigatóri­a para concluir o curso de Pedagogia. A carreira é oferecida em Guarulhos, na Grande São Paulo. Jane de Camargo, de 42 anos, está no último semestre da graduação e já fez a residência, além de ter sido bolsista do Pibid por dois anos.

“Foram duas experiênci­as muito importante­s para a minha formação e se complement­aram. No Pibid, desenvolve­mos um projeto, levamos uma nova proposta para a escola. Na residência, conheci a rotina do professor, acompanhan­do desde as reuniões pedagógica­s até as festinhas”, contou a estudante, que pretende dar aulas no ensino fundamenta­l. Outras ações. O MEC também está desenvolve­ndo uma base nacional comum de licenciatu­ras, documento que norteará os currículos dos cursos de formação de professore­s. Esse documento vai passar por consulta pública em 2018. A pasta ainda informou que retomará a oferta de vagas em cursos a distância pela Universida­de Aberta do Brasil, sem novas inscrições desde 2014. Serão 250 mil – 75% para licenciatu­ras.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Aprendizad­o. Jane de Camargo conheceu rotina do professor em estágio durante o curso de Pedagogia
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