O Estado de S. Paulo

NESTA COPA, BRASIL TEM UM TÉCNICO ALEMÃO

Campeonato pelo melhor pão ocorre na França neste mês; produtos regionais compõem aposta

- Edison Veiga

Nesta inusitada Copa do Mundo, é melhor começar esquecendo os 7 a 1. Porque o técnico da seleção brasileira nasceu justamente na Alemanha – mas passou boa parte da vida aqui no Brasil. Aos 42 anos, o padeiro Johannes Roos comanda a equipe amarelinha no campeonato mundial de panificaçã­o, certame que acontece entre os dias 22 e 24 deste mês em Saint Etienne, na França. E promete entrar em campo com ingredient­es que represente­m bem a culinária tupiniquim.

O júri dessa deliciosa disputa avalia oito tipos de pães, tudo baseado na tradição da panificaçã­o francesa. Ou seja: sai o brasileirí­ssimo pão francês (que de francês só tem o nome) e dá-lhe baguete em campo, ou melhor, na mesa. “A baguete tradiciona­l precisa ter exatamente 250 gramas cada”, explica Roos. “Isto depois de assada. Ou seja: precisamos calcular exatamente a quantidade de água na massa e o tempo exato de forno, para que não fique nem um grama a mais, nem um grama a menos.”

Mas são nos brioches recheados que o padeiro teuto-brasileiro promete usar e abusar da brasilidad­e. “Estamos preparando versões com jerimum, milho verde, banana passa, castanhado-pará, mandioca...A proposta é regionaliz­ar o conceito que é bem definido pela França”, aposta.

Criar e testar receitas faz parte do dia a dia de Roos. Ele comanda uma equipe de 20 profission­ais que integram o departamen­to brasileiro de inovação e treinament­o da Puratos, uma multinacio­nal belga que fornece insumos para padarias. Seu trabalho, portanto, consiste em elaborar produtos que os padei- ros do País podem aprender a fazer e incorporar às suas vitrines. “Passo boa parte do tempo viajando e passando essas ideias a eles”, conta ele, que quando está em São Paulo divide-se entre dois QGs – uma cozinha-laboratóri­o no Ipiranga, zona sul da cidade, e a sede da empresa, em Guarulhos, na Grande São Paulo.

A seleção brasileira deste ano terá como integrante­s o chef e padeiro recifense Douglas Miguel, de 34 anos, e a paulistana Milena Santos, de 19, auxiliar técnica. Ambos foram escolhidos por Roos para compor o time. “No dia do campeonato, eu, como técnico, não posso colocar a mão na massa. Mas ficarei ao lado orientando e passando instruções”, explica ele. A dupla terá oito horas para preparar os oito tipos de pães.

Trajetória. Filho de um alemão (o engenheiro mecânico aposentado Dieter Roos, 73 anos, hoje artista plástico) e uma brasileira (a professora de idiomas Iara Reis, de 69 anos), o padeiro tem carreira internacio­nal praticamen­te desde que nasceu. Aos 4 anos de idade, vivendo em Divinópoli­s, Minas, após a separação dos pais viu nascer o sonho de se tornar padeiro. “Quando comuniquei meu pai da decisão ele falou: ‘tudo bem, mas vai se formar na Alemanha’”, conta.

Roos vive em São Paulo há sete anos. Foi no trabalho que acabou conhecendo sua mulher, a nutricioni­sta Ligia Ono, 39 anos, com quem teve seu filho caçula, de 8 meses – Roos é pai de um outro menino, de 14 anos, fruto de seu primeiro casamento.

Se o seu trabalho hoje envolve mais burocracia­s e reuniões do que a mão na massa, Roos garante que a paixão da panificaçã­o é praticada também dentro de casa. Sem que isso signifique fazer hora extra. “Tenho até um moinho caseiro para fazer minha própria farinha de trigo. Adoro ficar inventando pães”, afirma Roos.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Sabor. Técnico aposta na ‘ginga’ brasileira para vencer

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