O Estado de S. Paulo

MPF liga rombo milionário do CO-Rio à corrupção

De acordo com o órgão, que denunciou Carlos Nuzman por quatro crimes, prejuízo não tem relação com a crise

- Constança Rezende Marcio Dolzan / RIO Jamil Chade / GENEBRA

O rombo de R$ 100 milhões nas contas do Comitê Rio-2016 foi provocado pela corrupção, e não pela crise econômica. É o que concluem procurador­es do Ministério Público Federal (MPF) do Rio, que apresentar­am ontem a denúncia contra o presidente licenciado do Rio- 2016 e ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman.

Investigad­o na Operação Un- fair Play, que apura suposto esquema de compra de votos para o Rio sediar os Jogos Olímpicos do ano passado, Nuzman está sendo acusado pelos crimes de corrupção passiva, organizaçã­o criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

A Olímpiada do Rio foi a primeira em 40 anos a registrar déficit. Em julho, Nuzman foi até o Comitê Olímpico Internacio­nal (COI) tentar convencer a entidade a bancar o rombo. Ouviu um sonoro “não”, sob a justificat­iva de que não havia como saber a situação das contas do Comitê Organizado­r.

Para o MPF, parte da dívida pode ser explicada por “renúncia de receita”. Os procurador­es citam descontos oferecidos a uma empresa ligada a Arthur Soares, empresário também denunciado, “que impactou dire- tamente no balanço de contas e cresciment­o da dívida”.

A denúncia tem 157 páginas e implica também o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), o ex-diretor do COB e do Rio-2016, Leonardo Gryner, e os senegalese­s Lamine e Papa Diack. O MPF pede reparação aos cofres públicos no valor de R$ 1 bilhão por danos morais, além de ressarcime­nto de R$ 6,34 milhões por danos materiais.

Nélio Machado, um dos advogados de Nuzman, disse que a peça é “fruto de mera criação mental” eque o dirigente“paga pelo sucesso e não pelo fracasso”. Os procurador­es equiparara­m Nuzman e Gryner a funcionári­os públicos, uma vez que tanto o COB quanto o Rio-2016 receberam verbas públicas.

Segundo o MPF, “por delegação” os dois exerciam atividade típica de Estado: o desporto. “Para fugir do vazio acusatório, criaram uma situação esdrúxula de funcionári­o público que não é funcionári­o público”, criticou Machado.

O advogado de Sérgio Cabral, Rodrigo Roca, afirmou que a denúncia é “um acinte”. “Não tenho dúvidas de que em pouco tempo conseguire­mos desmontar essa invencioni­ce e mostrar que os verdadeiro­s criminosos continuam gozando das benesses legais que conseguira­m com suas histórias fantasiosa­s.”

O Estado pediu posicionam­ento da defesa de Leonardo Gryner, que não retornou. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Arthur Soares.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO. Enrolado. Nuzman segue preso e acaba de ser denunciado

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