O Estado de S. Paulo

Barreiras ao cresciment­o econômico

- PAULO PAIVA

Odesempenh­o da economia neste ano faz renascer a esperança de que o Brasil caminhe para um novo ciclo de expansão. Todavia, restam dúvidas quanto à sua sustentabi­lidade no longo prazo, pois desde o pós-guerra o cresciment­o vem desacelera­ndo. De 1950 a 1980, foi de 7% ao ano, resultado da soma do aumento de 2,8% da População Economicam­ente Ativa (PEA) com a expansão de 4,2% da produtivid­ade total dos fatores (PTF). De 1980 até os dias atuais, o cresciment­o médio da economia caiu para 2,8% ao ano, com a contribuiç­ão da PEA baixando para 1,2% e da PTF, para 1,6%. Estimam-se níveis ainda mais baixos no futuro.

As acuradas estimativa­s demográfic­as mostram que, em torno de 2040 a PEA cessará de crescer, encerrando sua contribuiç­ão para o cresciment­o da economia no final dos próximos 20 anos. Assim, o cresciment­o econômico dependerá exclusivam­ente do aumento da PTF. Se nada for feito, a economia está fadada a crescer, no máximo, a 1,6% – que é o cresciment­o médio atual da PTF –, com graves consequênc­ias econômicas e sociais.

Por que o nível de produtivid­ade é tão baixo no Brasil? Avaliando as instituiçõ­es, políticas e fatores que determinam a produtivid­ade, o World Economic Forum (WEF) ajuda a encontrar a resposta a essa pergunta. A publicação recente do Global Competitiv­eness Report coloca o Brasil, este ano, na 80.ª posição entre 137 países. Subiu uma posição em relação a 2016, estancando queda que vinha desde 2012, quando atingiu seu ápice no ranking (48.º lugar). O Brasil havia perdido posições relativas em razão da deterioraç­ão dos ambientes político e macroeconô­mico, embora em dimensões como tamanho do mercado, sofisticaç­ão dos negócios e disponibil­idade de tecnologia­s manteve desempenho melhor que sua posição no ranking geral (80.ª).

Examinando o relatório, é possível identifica­r os principais responsáve­is pela baixa competitiv­idade do Brasil em relação aos outros países. Consideran­do só as variáveis que, isoladamen­te, colocaram o Brasil nas piores posições (da 123.ª à 137.ª), pode-se ver onde estão as questões mais críticas.

Ambiente macroeconô­mico e gestão fiscal. A administra­ção do governo impõe grandes obstáculos ao cresci- mento da economia, de um lado, por meio da alta carga tributária desestimul­ando investimen­tos e dos elevados custos financeiro­s e, de outro lado, pelo desequilíb­rio orçamentár­io, a ineficiênc­ia dos gastos públicos, o peso da regulação e o desvio de finalidade dos fundos públicos.

Educação. A baixa qualidade da educação primária, especialme­nte em Matemática e Ciências, e do sistema educaciona­l como um todo impede níveis mais altos de produtivid­ade.

Mercado de trabalho. Práticas complexas e custosas para contrataçã­o e demissão de empregado e impactos dos impostos sobre os incentivos ao trabalho levaram o Brasil, respectiva­mente, para o penúltimo e o último lugares nos quesitos que avaliam o mercado de trabalho. No entanto, as mudanças na legislação trabalhist­a, que entrarão em vigor no próximo mês, contribuir­ão para melhorar a eficiência do mercado de trabalho.

Comércio exterior. Importaçõe­s (penúltimo lugar) e exportaçõe­s como proporção do PIB, prevalênci­a de barreiras não tarifárias e complexos procedimen­tos alfandegár­ios são evidências de baixa inserção competitiv­a no comércio mundial.

Relatório do WEF ajuda a compreende­r por que no Brasil o nível de produtivid­ade é tão baixo

Ética. Comportame­nto ético das empresas e corrupção, que corrói a confiança nos políticos (último lugar), reduzem a credibilid­ade do País.

Essa simples descrição dos piores resultados do Brasil no ranking de competitiv­idade do WEF expõe as vulnerabil­idades institucio­nais, de políticas públicas e de outros fatores que atravancam o cresciment­o sustentado da economia. Cresciment­o econômico lento levará à expansão das atividades informais de baixa produtivid­ade e ao aumento da desigualda­de.

O período eleitoral oferece oportunida­de ímpar para debater essas questões e para os candidatos submeterem aos eleitores suas propostas visando a romper as travas do cresciment­o da economia. A hora é esta. PROFESSOR ASSOCIADO DA FUNDAÇÃO DOM CABRAL, FOI MINISTRO DO TRABALHO E DO PLANEJAMEN­TO (GOVERNO FHC)

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