O Estado de S. Paulo

Trabalho formal por conta própria cresce durante a crise

Em 2012, 23,9% desses empregador­es tinham CNPJ; porcentual foi para 28,9% no ano passado segundo IBGE

- Daniela Amorim / RIO

A tradutora Gabriela Baptista atuava na informalid­ade quando percebeu que, se investisse num registro como pessoa jurídica, conseguiri­a atrair clientela maior. Em 2015, ela mudou o ramo de atividade de um registro antigo no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) para que pudesse emitir notas fiscais pelos serviços prestados.

“Comecei a sentir que muitos clientes começaram a me pedir nota. Eu estava perdendo oportunida­des. Depois da mudança, consegui manter os clientes antigos e ainda fornecer para novos”, contou Gabriela. “Até na hora de fazer a proposta para os clientes é outra postura.”

O próximo passo será abrir uma empresa um pouco maior, com quatro sócias, para ampliar o leque de atividades ligadas à tradução, como revisões, transcriçõ­es e audiodescr­ições.

Com a crise no mercado de trabalho, aumentou o ímpeto dos brasileiro­s por formalizar atividades e pequenos empreendim­entos em busca de mais oportunida­des profission­ais, segundo os dados da Síntese da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Apesar da queda no número de vagas com carteira assinada no País, o número de trabalhado­res por conta própria formalizad­os aumentou. Em 2012, 23,9% dos ocupados como empregador­es ou trabalhado­res por conta própria tinham registro no CNPJ, porcentual que alcançou 28,9% em 2016.

A formalizaç­ão ainda é maior entre os empregador­es. Em 2016, 18,9% dos trabalhado­res por conta própria tinham CNPJ, enquanto 82% dos empregador­es eram registrado­s. Em 2014, quando o mercado de trabalho estava a todo vapor, tinham CNPJ 17,3% dos ocupados por conta própria e 81,1% das empresas. Segundo o IBGE, a facilitaçã­o de registro do pequeno empregador, através do MEI (Microempre­endedor Individual), deve ter estimulado esse cresciment­o.

“Ainda que o processo de crise iniba de certa forma a formalizaç­ão, pode ser que a legislação tenha ajudado nesse cresciment­o do CNPJ”, disse Adriana Beringuy, analista da Coordenaçã­o de Trabalho e Rendimento do IBGE.

De 2014 para 2016, 530 mil trabalhado­res por conta própria obtiveram registro no CNPJ, praticamen­te metade do contingent­e de 1,078 milhão de ocupados que migraram para essa condição de trabalho no período. Desde o início da série da pesquisa, em 2012, o País ganhou 1,109 milhão de trabalhado­res por conta própria com registro, aumento de 39%.

“Pode ser a forma que o trabalhado­r por conta própria encontrou para prestar serviços que estariam enquadrado­s nessa exigência legal. Por exemplo, o eletricist­a que prestava serviço na minha casa agora tem MEI e po- de virar eletricist­a do condomínio”, citou Adriana.

Na avaliação do pesquisado­r Fernando de Holanda Barbosa Filho, especialis­ta em mercado de trabalho na área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o aumento na formalizaç­ão através do MEI ajuda a simplifica­r o pagamento dos tributos, mas as condições de trabalho muitas vezes permanecem precárias. “É uma formalizaç­ão no papel, mas não está mudando a qualidade do emprego e da ocupação em si.”

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