O Estado de S. Paulo

BNDES usa Caixa para não devolver recursos à União

Banco vai usar socorro à Caixa para evitar a devolução de R$ 130 bi ao Tesouro em 2018 como quer o governo para cumprir ‘regra de ouro’

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A participaç­ão do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) no socorro à Caixa Econômica Federal deve acirrar ainda mais os embates em torno da devolução que o banco de fomento tem de fazer ao Tesouro Nacional de R$ 130 bilhões em 2018. O argumento do banco é de que, se antes o pagamento antecipado desses empréstimo­s à União já era difícil, essa nova transação diminuiria a “folga de caixa” prevista para 2018, de R$ 42 bilhões, segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’.

O BNDES vai renovar as investidas para convencer o governo a desobrigá-lo de devolver os recursos em 2018. A tese que será defendida é que o governo pode acionar uma “cláusula de escape” para a “regra de ouro” prevista na Constituiç­ão, com autorizaçã­o do Congresso.

Para defender essa tese, o BNDES chegou a fazer um levanta- mento que mostra que os Estados Unidos teriam acionado pelo menos 21 vezes desde a década de 70 uma cláusula de exceção para sua “regra de ouro” para poder emitir mais dívida.

Técnicos do governo, porém, ressaltam que a salvaguard­a não pode servir para resolver um caso de desequilíb­rio tão explícito e conhecido com antecedênc­ia. Serve apenas para casos em que há uma necessidad­e imprevisív­el e urgente de recursos, dentro do próprio ano. Geralmente são valores baixos, e não dezenas de bilhões, segundo os técnicos.

A área econômica sabe que essa justificat­iva será usada pelo banco para evitar a devolução do valor que o governo precisa para cumprir a “regra de ouro” do Orçamento, que impede a emissão de dívida para pagar despesas correntes, como salários. Mas conta a seu favor um parecer técnico do Tribunal de Contas da União (TCU) que cobra do BNDES um calendário de devolução imediata dos recursos.

A folga de R$ 42 bilhões é o que “sobra” no caixa depois de contabiliz­adas todas as obrigações com empréstimo­s atuais e futuros e a devolução antecipada de R$ 50 bilhões que será concluída em 2017. O número também leva em conta expectativ­a

de que os desembolso­s voltem a crescer em 2018 para o patamar de R$ 100 bilhões.

Como antecipou o Estadão/Broadcast, o governo negocia uma operação para socorrer a Caixa e evitar que o Tesouro seja obrigado a fazer um aporte de recursos no banco, para que a instituiçã­o não descumpra regras internacio­nais de proteção a crises no sistema financeiro. Uma das alternativ­as é que a Caixa venda para o BNDES até R$ 10 bilhões em créditos de maior risco. Em troca, o BNDES ficaria com a gestão do FIFGTS, o fundo de investimen­tos que usa parte do FGTS para aplicar em infraestru­tura.

 ?? SERGIO MORAES/REUTERS ?? Defesa. Técnicos do BNDES vão usar exemplo americano
SERGIO MORAES/REUTERS Defesa. Técnicos do BNDES vão usar exemplo americano

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil