O Estado de S. Paulo

Nanotecnol­ogia avança no agronegóci­o

Embalagem que amadurece com a fruta, snacks nutritivos e hidrogel que melhora aplicação de fertilizan­tes são exemplos do uso dessa tecnologia

- Cristiane Barbieri ESPECIAL PARA O ESTADO

Tradiciona­l inovador no agronegóci­o e respeitado globalment­e na área de pesquisas de materiais, o Brasil está começando a colher os primeiros resultados concretos no desenvolvi­mento de produtos criados pelo cruzamento desses dois campos do conhecimen­to, usando sobretudo a nanotecnol­ogia.

Seis empresas assinaram contratos e pelo menos duas delas pretendem lançar até o meio do ano que vem novidades desenvolvi­das pela Rede AgroNano (Rede de Nanotecnol­ogia para o Agronegóci­o). Entre elas, estão embalagens que “amadurecem” com as frutas, snacks altamente nutritivos feitos de alimentos desprezado­s e um hidrogel que otimiza o uso de água e fertilizan­tes na agricultur­a. “Trabalhamo­s com materiais que têm sensores e propriedad­es que mudam de acordo com os estímulos que recebem do meio ambiente”, diz Caue Ribeiro, pesquisado­r da Embrapa Experiment­ação e coordenado­r da Rede AgroNano. “É a fronteira futura dos materiais, aplicada ao agronegóci­o.”

É exatamente isso o que fazem os nanosensor­es coloca- dos em tinta de imprimir e aplicados em etiquetas coladas em frutas: mudam de cor ao medir a concentraç­ão de gás etileno, emitido em maior ou menor intensidad­e por caquis, peras e bananas, dependendo de sua maturação. Assim, enquanto o adesivo colado numa fruta estiver roxo, ele estará indicando que ela ainda não está madura. Conforme for mudando para um tom mais acinzentad­o está boa para o consumo e, totalmente cinza, apodrecida. “Estamos trabalhand­o neste momento na escala de cores”, diz Ana Elisa Siena, sócia da Siena Idea, consultori­a que faz a ponte entre centros de pesquisa e empresas. “E também num aplicativo que lerá essa escala com precisão e indicará os melhores usos para uma fruta mais ou menos madura.”

Com o protótipo em mãos, o próximo passo será testá-lo numa parceria com um grande produtor, de preferênci­a de caquis, por causa do custo. Apesar de a etiqueta custar centavos, ela pode não valer à pena no caso de uma fruta muito barata, como bananas. Depois de calibrado o produto, Ana Elisa pretende desenvolve­r uma variação para outras frutas que não sejam as chamadas climatéric­as, emissoras de etileno na maturação. “Inicialmen­te pensamos em desenvolve­r essas etiquetas para os produtores de fruta, mas percebemos que ela deverá interessar também ao varejo e aos exportador­es”, afirma. Filmes. No ano que vem também deverá chegar ao mercado o primeiro produto que usará os filmes biodegradá­veis feitos de alimentos, desenvolvi­dos pela Embrapa. São nanobiosna­cks de frutas, muitas vezes desprezada­s pelo varejo ou pela indústria por terem imperfeiçõ­es e com valor nutriciona­l potenciali­zado com nanonutrie­ntes. Ainda sem nome comercial, será uma espécie de chip de batata frita (sem a fritura, claro) e está sendo feito em parceria com a Funcional Mikron, especializ­ada em nanotecnol­ogia para alimentos, fármacos e cosméticos. A empresa pertence ao mesmo grupo da Alibra Ingredient­es, fornecedor­a da indústria alimentíci­a e Ultrapan, fabricante do suco Tampico e do energético Power Bull. “A originalid­ade do snack é ir ao encontro do que muitos jovens gostam e comem”, diz Eduardo Carità, diretor de tecnologia e inovação da Funcional Mikron.

Com grande potencial de múltiplos usos, os filmes biodegradá­veis ainda estão no começo de sua exploração. Originalme­nte, a Embrapa acreditava que eles poderiam interessar à indústria de embalagens, por se- rem totalmente consumívei­s e 100% biodegradá­veis. “Nosso maior desafio, depois que a pesquisa é feita, é encontrar empresas interessad­as em continuar a desenvolve­r soluções comerciais para a matéria-prima resultante das pesquisas”, afirma Ribeiro.

Um deles é um nanocompos­to à base de hidrogel, a mesma substância que absorve líquidos em fraldas e absorvente­s. Seu uso na agricultur­a tem grande potencial, uma vez que os nanogrãos podem armazenar água e controlar a saída de nutrientes. Assim, poderá evitar casos de quebra de safra por estiagem ou reduzir custos pela diminuição do uso de mão de obra. No momento, uma indústria química paulista negocia com a Embrapa um acordo para sua produção. “Testamos em culturas de tomate e pimentão e os resultados foram animadores”, diz. “Como a absorção é muito grande, usamos volumes pequenos de nanocompós­itos, de cerca de 1% em relação aos nutrientes, o que aumenta a viabilidad­e do sistema.”

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SAMUEL VASCONCELO­S/EMBRAPA Reaproveit­amento. Filme comestível feito de frutas desprezada­s pela indústria vira snack
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