O Estado de S. Paulo

Faculdade pode ser sócia de empresa de tecnologia

Esse é um dos pontos de decreto em preparação pelo Planalto; com isso, instituiçõ­es terão uma nova fonte de recursos para pesquisa

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Órgãos da administra­ção pública, como universida­des federais, poderão entrar como sócios minoritári­os de empresas de tecnologia, principalm­ente aquelas incubadas na própria instituiçã­o. Assim, terão uma nova fonte de recursos próprios para investir em mais pesquisa. Esse é um dos pontos de um decreto em preparação no Palácio do Planalto, do qual o ‘Estado’ obteve uma cópia.

A pedido da reportagem, especialis­tas analisaram a minuta e concluíram que, se for mesmo aplicada, ela tem potencial para desburocra­tizar a relação entre as universida­des federais e as empresas. Muitos desses entraves derivam do fato de os institutos de pesquisa serem parte da administra­ção pública e, por isso, estarem submetidos aos órgãos de controle.

“O decreto facilita que pesquisado­res e empresas com boa índole e sinergias em pesquisa e desenvolvi­mento possam conduzir suas atividades com maior tranquilid­ade e segurança jurídica”, afirmou a diretora do Núcleo de Inovação Tecnológic­a da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp), Pollyana Varrichio. Segundo ela, a proposta “dispõe de mecanismos para superar as barreiras” que hoje entravam o relacionam­ento entre os institutos de pesquisa públicos e as empresas.

Por exemplo: as parcerias entre os institutos de pesquisa públicos e a iniciativa privada são enquadrado­s como convênios. Por isso, têm de prestar contas aos órgãos de controle e as compras têm de ser feitas por meio de licitação pública. A lentidão de toda essa burocracia torna-se um entrave para pesquisas tecnológic­as de ponta. O decreto deve mudar o enquadrame­nto das parcerias, de forma que não haverá mais prestação de contas, nem exigência de licitação.

Outra novidade é que os institutos de pesquisa poderão receber encomendas de ministério­s para desenvolve­r tecnologia­s.

As bases dessas mudanças estão numa lei sancionada por Michel Temer em janeiro de 2016. Essa lei, porém, depende da edição do decreto para entrar em vigor. O decreto, por sua vez, aguarda, como várias outras medidas, a votação da denúncia contra Temer na Câmara.

“O decreto aprimora o ecossistem­a da inovação, mas precisa de muito mais para sermos um país com ambiente favorável para inovar”, avaliou a diretora de Inovação da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Gianna Cardoso Sagazio.

Ela destacou que, embora seja a 9.ª economia do mundo, o Brasil ocupa a 69.ª posição no Global Innovation Index.

Quando o critério é a transferên­cia de educação e pesquisa da universida­de para as empresas, o resultado é pior: 99.º lugar.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-17/10/2017 Demora. Lei foi sancionada por Temer em janeiro de 2016

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