O Estado de S. Paulo

Maia prepara agenda para economia após denúncia

Presidente da Câmara analisa projetos para socorrer bancos e mudanças na Previdênci­a

- Igor Gadelha Vera Rosa / BRASÍLIA / COLABORARA­M CARLA ARAÚJO e FELIPE FRAZÃO

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, articula uma agenda política e econômica própria. Ele analisa como mudar as regras da Previdênci­a por meio de projetos de lei, que, em tese, exigiriam menos esforço para serem aprovados. Maia também negocia projeto com o Banco Central que permitirá usar dinheiro do Tesouro Nacional no socorro para bancos em dificuldad­es e deve defender a aprovação da reforma tributária. Além disso, estuda pautas de maior apelo popular, nas áreas de segurança e saúde. A agenda deve ser apresentad­a no dia seguinte à votação na Casa da segun-

da denúncia contra Michel Temer, marcada para hoje. Governo e oposição trabalhava­m ontem com um cenário de rejeição da denúncia. O custo para barrar as investigaç­ões contra o presidente já chega a R$ 32 bilhões, entre concessões e medidas negociadas.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), prepara uma agenda própria da Casa para apresentar no dia seguinte ao da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, marcada para hoje. A pauta deve ter matérias econômicas articulada­s pessoalmen­te por ele e projetos de maior apelo popular, principalm­ente nas áreas da segurança pública e saúde.

A intenção do parlamenta­r, segundo aliados, é buscar mais protagonis­mo no cenário nacional no momento em que Temer sai enfraqueci­do após gastar seu capital político para barrar as denúncias das quais é alvo.

Ontem, na véspera da votação, Temer recebeu vários deputados para garantir apoio. Um deles foi Maia, de quem quis saber como estava o clima na Câmara. À noite, o presidente foi a jantar no apartament­o do vicepresid­ente da Câmara, Fabio Ramalho (PMDB-MG).

Ao sair da conversa reservada com Temer, Maia disse que, da sua parte, não há problema com o governo, mas ressaltou: “Em política não tem amiguinho. Muito menos para sempre”. A declaração ocorre após episódios de tensão com o Planalto. “Que ato concreto eu fiz contra o governo? Quando a denúncia chegou aqui, queriam dividir e eu fui o primeiro a dizer que não tinha divisão”, afirmou o deputado, ao ser questionad­o se o mal-estar havia acabado.

Para deputados próximos, é Maia quem tem condições, no momento, de conduzir a agenda de que o País necessita. “O Rodrigo tem uma boa relação com todos os partidos, da base e da oposição. Enfim, tem condições de construir essa agenda”, disse o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM).

‘CEO’. Na base aliada, a avaliação é de que uma pauta impopular imposta pelo governo não tem chances de avançar na Casa. “Precisamos de uma agenda comum com o Planalto para saber o que é possível aprovar, mas trazendo o eixo de protagonis­mo para cá, com aquiescênc­ia do Temer”, afirmou Rogério Rosso (PSD-DF). Para ele, Maia deve atuar como uma espécie de “CEO” do País e Temer, como “presidente do conselho de administra­ção”.

Com a agenda própria, Maia agrada aos parlamenta­res da base, que resistem a votar os projetos que o governo pretende enviar após a denúncia, como o adiamento do reajuste dos servidores públicos e o aumento da alíquota da contribuiç­ão previdenci­ária. “Todo mundo quer saber do dia seguinte. Mas não pode ficar votando só pauta de desgaste”, disse o líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL).

Na agenda de Maia está o discurso em defesa da reforma da Previdênci­a. No entanto, diante da forte resistênci­a tanto da oposição quanto da base aliada a votar matérias impopulare­s a menos de um ano das eleições, ele articula votação das mudanças nas regras previdenci­árias por meio de projetos de lei. Esses projetos exigem quórum menor para aprovação do que a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) que trata da reforma e que está em tramitação na Câmara dos Deputados.

Segundo aliados, Maia pediu estudo da assessoria técnica da Casa para saber que pontos da reforma podem ser votados por meio de projeto de lei. De acordo com técnicos legislativ­os, entre os pontos que podem ser alterados por PL ou medida provisória estão o aumento do tempo mínimo de contribuiç­ão para aposentado­ria por idade e aumento da contribuiç­ão de servidores inativos. Considerad­o o principal pilar da reforma, a mudança na idade mínima só pode ser aprovada por PEC.

Ainda na área econômica, o presidente da Câmara negocia com o Banco Central um projeto de resolução bancária que permitirá, em último caso, injetar dinheiro do Tesouro Nacional para socorrer bancos em dificuldad­es. O deputado também deve encampar a aprovação da reforma tributária.

Maia também pretende destravar a proposta de reoneração da folha de pagamento. Uma comissão especial foi instalada ontem. Ele escolheu como relator um de seus principais aliados na oposição: o deputado Orlando Silva (PC do B-SP).

‘Anseio’. Na pauta com apelo popular, Maia deve focar em projetos na área da segurança pública, entre eles, um que aumenta pena para crimes cometidos contra policiais. Na área da saúde, pretende pautar no plenário projeto para reformar a lei de planos de saúde. O projeto beneficia idosos, ao prever o fim do reajuste de mensalidad­e após 60 anos. “Espero que, a partir da próxima semana, a gente possa ter um pilar de agendas que represente­m o anseio da sociedade”, afirmou Maia.

Maia deve apresentar essa agenda até amanhã. No dia seguinte, embarca para Israel e Palestina, onde deve ter encontro nos parlamento­s desses países. Na volta, é esperado no encerramen­to do Seminário Internacio­nal de Direito do Trabalho, marcado para 3 de novembro, em Lisboa, promovido pelo Instituto Brasiliens­e de Direito Público (IDP).

“Em política não tem amiguinho. Muito menos para sempre.” Rodrigo Maia (DEM-RJ) PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Plenário. Deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, durante a sessão na Casa em que denúncia foi lida

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