O Estado de S. Paulo

Bandeira vermelha de energia vai subir 43%

Estiagem prolongada leva Aneel a aumentar, de R$ 3,50 para R$ 5,00, o adicional cobrado nas tarifas de energia a cada 100 kWh consumidos

- Anne Warth / BRASÍLIA

A seca persistent­e e o baixo nível dos reservatór­ios das usinas hidrelétri­cas vão elevar ainda mais as contas de luz a partir de novembro. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu aumentar, de R$ 3,50 para R$ 5,00, o adicional cobrado nas tarifas a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. É a bandeira vermelha patamar 2 com uma cobrança ainda mais cara.

A falta de chuvas fez com que os novos valores, que valeriam apenas a partir de janeiro, fossem antecipado­s para novembro. Para os usuários que mantiverem o mesmo consumo do mês de outubro, o impacto total na conta de luz deve ser de 3,5%, segundo a Associação Brasileira de Distribuid­ores de Energia Elétrica (Abradee). Nas contas da Aneel, a mudança terá efeito um pouco menor, de 3,01%.

Com as alterações propostas pela Aneel, o sistema das ban- deiras tarifárias vai passar a levar em consideraç­ão o nível dos reservatór­ios das hidrelétri­cas (risco hidrológic­o). Até então, o modelo considerav­a apenas o preço da energia no mercado à vista (PLD). Por isso, era muito influencia­do por chuvas que ocorressem na última semana do mês e até mesmo por previsões meteorológ­icas. Assim, houve meses em que os níveis dos reservatór­ios caíram e, mesmo assim, vigorou a bandeira verde.

No novo modelo, a bandeira verde será acionada quando não houver déficit hídrico, ou seja, quando as usinas estiverem em condições de garantir a produção de toda a energia que vendem em seus contratos.

Quando as hidrelétri­cas tiverem de poupar água em seus reservatór­ios, gerando menos energia do que deveriam, e o governo mandar ligar as usinas termoelétr­icas, que fornecem eletricida­de mais cara, a aplicação da bandeira vai depender de uma relação entre essa produção mais baixa e o custo da energia no mercado de curto prazo (PLD).

De acordo com o diretor-ge- ral da Aneel, Romeu Rufino, as contas de luz devem ter bandeira vermelha em seu segundo pa- tamar em novembro. A decisão será tomada na sexta-feira. “O modelo antigo tinha uma sensibilid­ade exagerada em razão de chuvas pontuais. Agora, vamos passar a olhar mais para a realidade do setor elétrico”, afirmou o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino.

Situação crítica. Rufino reiterou que a situação hídrica é crítica, pois o País já registra o quarto ano consecutiv­o de estiagem e chuvas abaixo da média histórica. “Não há nenhum risco de desabastec­imento de energia, mas cada vez mais teremos de acionar termoelétr­icas, que geram energia mais cara”, disse. “O consumidor deve evitar o desperdíci­o para aliviar custos. O comportame­nto do consumidor contribui para a volta de um maior conforto ao sistema”, afirmou Rufino.

Atualmente, a conta das bandeiras tarifárias tem déficit de R$ 1,7 bilhão. Isso significa que o custo de geração de energia não é coberto nem pelas tarifas, nem pelas bandeiras. Se não houvesse mudança no modelo, a previsão era que esse rombo atingisse R$ 6 bilhões, segundo a Abradee, o que levaria a reajustes bem maiores no ano que vem.

O sistema de bandeiras tarifárias é uma forma diferente de cobrança na conta de luz. O modelo reflete os custos variáveis da geração de energia. Antes, esse custo era repassado às tarifas uma vez por ano e tinha a incidência da taxa básica de juros, a Selic, o que deixava a conta mais cara. Agora, esse custo é cobrado mensalment­e e permite ao consumidor adaptar seu consumo e evitar sustos na conta de luz.

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