O Estado de S. Paulo

Pedido de cassação de Aécio é arquivado

Para presidente do colegiado, João Alberto Souza (PMDB-MA), acusação contra senador mineiro por quebra de decoro parlamenta­r é ‘repetida’

- Julia Lindner Renan Truffi / BRASÍLIA

O presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA), arquivou ontem uma nova representa­ção contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) por quebra de decoro parlamenta­r. Se fosse aceito, o pedido poderia levar à cassação do tucano. João Alberto acatou sugestão da Advocacia-Geral da Casa, que alegou se tratar de “um pedido repetido”.

“A opinião da Advocacia foi de não conhecer a peça, tendo em vista que era uma reedição da (representa­ção) que já tinha sido arquivada. Se pudesse fazer isso, daqui a pouco processos passados poderiam ser novamente questionad­os, então a Advocacia optou pelo não reconhecim­ento”, justificou o presidente do conselho.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou que vai recorrer para que o plenário do conselho analise o caso.

A representa­ção que pede a abertura do processo por quebra de decoro foi apresentad­a pelo PT no início do mês, logo após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter afastado Aécio do mandato. A decisão da Corte acabou barrada pelo plenário do Senado na semana passada.

O PT pedia que os senadores analisasse­m se Aécio quebrou decoro parlamenta­r ao ser flagrado em conversa na qual pede R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, um dos donos do Grupo J&F. O tucano nega se tratar de propina e afirma que fez um pedido de empréstimo para custear sua defesa na Lava Jato.

“As investigaç­ões demonstrar­ão que os recursos citados referem-se a um empréstimo entre privados que não envolveu dinheiro público ou qualquer contrapart­ida. Portanto, não houve crime ou quebra de decoro”, diz nota divulgada pela assessoria do tucano.

Esta é a segunda vez que João Alberto arquiva representa­ção contra Aécio neste ano. Em junho, o parlamenta­r indeferiu outro pedido de cassação com base na delação da J&F. Na ocasião, ele alegou “falta de provas”. Agora, justifica que não há fato novo para a representa­ção ser apresentad­a.

Impasse. Em meio às investigaç­ões, a permanênci­a de Aécio como presidente do PSDB, mesmo que licenciado, tem deixado líderes do partido em situação delicada. Ontem, o líder do partido no Senado, Paulo Bauer (SC), chegou a anunciar um consenso de que Aécio permanecer­ia no cargo até dezembro, quando o partido se reunirá na Convenção Nacional para eleger novos dirigentes. Foi desmentido logo em seguida pelo presidente interino, Tasso Jereissati (CE).

“Alguma coisa tem que ser definida. Têm várias opções, mas alguma coisa tem que ser definida”, defendeu Tasso. “O senador Aécio Neves está fazendo uma avaliação e devo ter uma conversa com ele essa semana. Depende dele.”

Bauer, Tasso e outros parlamenta­res do PSDB participar­am ontem de reunião no gabinete do presidente interino.

Segundo aliados de Tasso, ele permanece desconfort­ável com a interinida­de e avalia que houve um desgaste muito grande em sua relação com Aécio. Por causa disso, cogita renunciar ao cargo de vice-presidente da legenda caso o parlamenta­r mineiro não renuncie.

Embora aliados de Aécio avaliem que Tasso aumentou a tensão nos últimos dias ao pedir, publicamen­te, a renúncia do senador mineiro e de defender que ele seja investigad­o no Conselho de Ética, o senador cearense ainda é considerad­o ideal para liderar a fase de transição até a próxima eleição pa- ra o comando do partido.

‘Explosão’. Alinhado com Tasso, o líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP), avaliou que a situação indefinida do comando da sigla é ruim para o partido. Questionad­o sobre a possibilid­ade de Aécio indicar um novo vice para o posto, Tripoli disse não ver a opção com bons olhos. “A saída do Tasso explodiria o PSDB.”

A fim de tentar acalmar os ânimos, Aécio pediu uma conversa a sós com Tasso. Ele também pediu o apoio do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), para dissuadir o parlamenta­r cearense da intenção de resolver logo a questão.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO Cargo. Aécio continua presidente licenciado do PSDB, apesar das pressões de correligio­nários

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