O Estado de S. Paulo

Custo de denúncias contra Temer alcança R$ 32,1 bi

Poderes. Soma de concessões e medidas do governo para atender base no Congresso revela preço da negociação política para evitar prosseguim­ento das acusações formais

- Felipe Frazão / BRASÍLIA COLABORARA­M ADRIANA FERNANDES e ANDRÉ BORGES

A negociação política para barrar duas denúncias criminais contra o presidente da República, Michel Temer, tem um custo que pode chegar a R$ 32,1 bilhões. Essa é a soma de diversas concessões e medidas do governo negociadas com parlamenta­res da Câmara entre junho e outubro, desde que Temer foi denunciado pela primeira vez, por corrupção passiva, até a votação da segunda acu sação formal, pelos crimes de organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça – o que está previsto para hoje.

O preço para impedir o prosseguim­ento das denúncias supera em R$ 6 bilhões os recursos previstos por Temer para pagar parcelas de famílias beneficiár­ias do programa Bolsa Família ao longo do ano que vem. O programa de complement­ação de renda foi orçado em R$ 26 bilhões, em 2018. Também é maior do que o custo total para a construção da Usina Hidrelétri­ca Belo Monte, atualmente estimado em cerca de R$ 30 bilhões.

Temer precisa de 172 votos a seu favor, ausências ou abstenções para barrar a segunda denúncia. Na primeira votação, ele obteve 263 votos. Segundo aliados, o presidente tem 240 votos garantidos, mas poderá chegar a 270 votos, resultado que confortari­a o Palácio do Planalto e deverá servir como espelho para estratégia­s de tramitação das reformas tributária e da Previdênci­a.

Além das concessões, de junho a outubro, o Planalto ainda empenhou R$ 4,2 bilhões de emendas parlamenta­res individuai­s de deputados, que têm execução obrigatóri­a desde 2015. O ritmo de liberações, no entanto, é definido pelo governo e foi um dos trunfos para barrar a primeira denúncia. Se fossem considerad­as, a conta subiria para R$ 36,3 bilhões.

Sem dinheiro para pagar o compromiss­o de fato e perto de liberar todas as emendas disponívei­s, o Planalto passou a negociar em outras frentes.

Impopular, o governo Temer recuou da liberação da exploração de minério na Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), na Amazônia, depois de mobilizaçã­o internacio­nal contrária. Nesta semana, porém, decidiu dar descontos de 60% em multas ambientais e transforma­r os pagamentos em compromiss­os de gastos dos entes privados com refloresta­mento e conservaçã­o do ambiente. A medida pode tirar dos cofres mais de R$ 2,7 bilhões.

Segundo parlamenta­res ligados a centrais sindicais, o governo promete apoiar tentativas congressua­is de retomar algum tipo de contribuiç­ão para o custeio dos sindicatos.

O governo indicou também que vai desistir de privatizar o Aeroporto de Congonhas (SP), cujo leilão poderia arrecadar R$ 6 bilhões. Administra­do pela Infraero, o controle político do terminal está nas mãos do PR, do ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão.

Bancada ruralista. Temer fez concessões em programas de parcelamen­to de dívidas para empresário­s e produtores rurais, e em atos de interesse de bancadas temáticas como a dos ruralistas, que tem 214 deputados em exercício e poderia, sozinha, garantir a salvação do mandato do peemedebis­ta.

Pleitos antigos da bancada fo- ram atendidos recentemen­te pelo governo. Os ruralistas já haviam sido agraciados com um pacote de descontos nas alíquotas de contribuiç­ão para o Fundo de Assistênci­a ao Trabalhado­r Rural (Funrural), usado para custear aposentado­rias, e condições mais benéficas para quitar dívidas com o fundo, cujo prazo de adesão foi postergado para novembro. Até agora, o governo não recorreu de um proje- to de resolução do Senado que anistiou um passivo de R$ 17 bilhões não pagos ao Funrural.

Temer também sancionou ontem, com vetos, a Medida Provisória do Refis, deixando de arrecadar R$ 4 bilhões, conforme estimativa do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. A pasta era contrária à renúncia. O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) negou que essas decisões do governo te- nham sido influencia­das por acordos em troca de apoio nas votações./

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