O Estado de S. Paulo

Um governo entregue ao Congresso

- Caio Junqueira

Os principais efeitos da delação da J&F foram a perda do protagonis­mo do presidente na condução da agenda do País e a consequent­e transferên­cia do eixo de poder do Executivo para o Legislativ­o. Se a chegada de Temer ao poder pela via legislativ­a já lhe obrigou a assumir compromiss­os com a base que lhe daria sustentaçã­o, as denúncias da JBS inflaciona­ram o preço de apoio e fizeram com que o governo passasse a ser compartilh­ado, quando não submetido, por completo, ao Congresso. Daí se explica a sucessão de concessões feitas aos grupos de interesse, em especial empresário­s e ruralistas, que têm no amplo leque de 513 deputa- dos e 81 senadores seu mais eficiente canal de acesso ao poder em Brasília.

Temer, assim, viu-se obrigado a se dobrar à aliança desses lobbies com os parlamenta­res e a ceder para se segurar no cargo. O resultado está aí. O Congresso hoje não só controla a agenda nacional como perdeu o medo de emplacar retrocesso­s, em especial nas áreas social, ambiental e comportame­ntal. Para piorar, quando impedido constituci­onalmente de fazê-lo, encontra no governo o abrigo de suas demandas. Embora seja um governo curto, a intensidad­e marca a era Temer. A primeira fase foi marcada pela provisorie­dade. A segunda, pelos primeiros passos de um necessário ajuste fiscal. Após a delação da J&F, contudo, Temer perdeu o controle do governo para o Congresso e, na quarta fase que se inicia hoje, a marca será o duelo com o Legislativ­o para retomar o protagonis­mo perdido.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil