O Estado de S. Paulo

Incertezas continuam mesmo após votação no plenário da Câmara

- Marco Antônio Teixeira *É PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA FGV-SP ONDE DESENVOLVE PESQUISAS NA ÁREA DE TRANSPARÊN­CIA E DEMOCRACIA

Avotação da segunda denúncia contra Michel Temer na Câmara dos Deputados vem promovendo uma intensa movimentaç­ão nas hostes governista­s e oposicioni­stas. Está em jogo, para além do possível afastament­o do presidente da República, o futuro de reformas considerad­as importante­s para a política econômica do Planalto. O resultado dessa votação deverá influencia­r diretament­e na possibilid­ade de o gover- no manter a sua intenção de encaminhar, ainda este ano, a retomada da discussão da reforma da previdênci­a, cuja aprovação é considerad­a crucial para a manutenção do apoio político de setores do mercado.

Não por acaso, custo pago para garantir o apoio de aliados nessa segunda votação já pode ser sentido sob a forma de concessões que afetam a receita orçamentár­ia do governo e com a adoção de medidas que beneficiam setores econômicos com representa­ntes no parlamento ou com grande capacidade de influencia­r a decisão de deputados. Por exemplo, a publicação da portaria que altera os critérios de classifica­ção do trabalho escravo – suspensa por decisão liminar da ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber – assim como a edição de um decreto permitindo que multas ambientais não quitadas possam ser convertida­s em prestação de serviços ambientais, foram medidas que visaram garantir o apoio da numerosa bancada ruralista a Michel Temer. A agilização do atendiment­o de emendas parlamenta­res que se encontrava­m pendentes desde a votação da primeira denúncia, bem como a edição de uma medida provisória que ampliou benefícios do Refis, algo que enfrentava resistênci­a na equipe econômica, também tiveram o mesmo objetivo.

O jogo em torno da segunda denúncia tem como primeiro round o mandato do presidente da República. Entretanto, o custo da governabil­idade para Temer tende a aumentar cada vez que ele precise enfrentar uma nova crise política. É preciso ficar atento ao momento seguinte dessa votação. É ele quem vai indicar qual é o tamanho da base do governamen­tal e se ela será suficiente para a votação de propostas de reformas que requerem quóruns altos para aprovação. Todavia, se o comportame­nto nas relações entre o Executivo e o Legislativ­o permanecer orientado no tradiciona­l “é dando que se recebe” restará saber se ainda haverá recursos capazes de sustentar tal relação.

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