O Estado de S. Paulo

Deltan fala em 100 medidas anticorrup­ção

Coordenado­r da força-tarefa afirma que entidades da sociedade civil vão elaborar propostas que visam à ‘renovação política’ nas eleições

- Julia Affonso Fausto Macedo Luiz Vassallo

O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenado­r da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, afirmou ontem que entidades da sociedade civil devem lançar, em breve, um pacote com mais de cem medidas anticorrup­ção. Essas propostas serão usadas por estas entidades nas eleições de 2018 como “compromiss­o” a ser assumido por candidatos ficha-limpa. Dallagnol, contudo, não explicou quais organizaçõ­es estarão envolvidas nesse processo. O procurador disse apenas que será diferente do pacote “10 Medidas Contra a Corrupção”, projeto criado pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2015.

“A estratégia agora não é mais coletar assinatura­s, mas escolher senadores e deputados que tenham passado limpo, espírito democrátic­o, e apoiem o combate à corrupção”, afirmou Dallagnol no Fórum Estadão Mãos Limpas e Lava Jato,

evento promovido pelo Estado

e pelo Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP).

Para Dallagnol, a ideia é usar o novo pacote “como uma alavanca para transforma­ção, para renovação política”. “A mudança está nas mãos da sociedade. Se a maioria do Congresso não aprova o pacote anticorrup­ção, basta que a sociedade coloque lá quem vai aprovar. Entidades da sociedade civil estão desenvolve­ndo um grande pacote para combater a corrupção no setor público e no privado”, disse o procurador.

“Vejo que as pessoas se preocupam mais com a eleição para Presidênci­a no ano que vem. Eu tenho preocupaçã­o maior com cargo de deputado federal e senador. Porque é deles que de- pendem as leis e a aprovação das reformas. A ideia da sociedade seria colocar no Congresso quem seja favorável às grandes reformas necessária­s. E a socie- dade civil está se organizand­o para isso. Precisamos manter nossa esperança”, afirmou.

Em setembro de 2015, o Ministério Público Federal lançou a campanha 10 Medidas Contra a Corrupção. A iniciativa partiu dos procurador­es da República que integram a força-tarefa da Lava Jato – Deltan Dallagnol estava entre eles. A campanha chegou a coletar mais de 2 milhões de assinatura­s e o pacote de medidas foi entregue ao Congresso. Constavam entre as medidas propostas como criminaliz­ar enriquecim­ento ilícito de agentes públicos e o aumento de pena para crimes de colari- nho-branco. Atribuía ainda à corrupção peso equivalent­e a crimes hediondos. O pacote, no entanto, não avançou. Para Dallagnol, as medidas que atacavam o “coração da impunidade” foram destruídas pelo Congresso Nacional.

“Esse pacote aproveita grande parte das 10 Medidas Contra a Corrupção e vai além, promovendo regras que melhoram o compliance, melhoram a transparên­cia, melhoram licitações, sistema eleitoral”, afirmou.

Dallagnol reforçou em sua apresentaç­ão, ontem, que o combate à corrupção depende de toda a sociedade. “Meu maior medo é que muitos de nós não percebamos que em 2018 existe uma cerca baixa sendo colocada diante de nós. Nós podemos dar um grande salto contra a corrupção no País, mas isso depende essencialm­ente de nós”, disse ele ao encerrar sua fala de abertura do fórum.

Reformas. Já o juiz federal Sérgio Moro, também presente no fórum, afirmou ontem que “não se resolvem problemas de corrupção somente com processos judiciais”. Para o magistrado, são necessária­s “reformas mais abrangente­s”. Segundo o juiz da Lava Jato, os processos são importante­s assim como a “redução da impunidade é fundamenta­l”.

O magistrado, que aparece em todas as pesquisas eleitorais como um dos possíveis nomes de uma eventual disputa à Presidênci­a, mais uma vez negou aspirações políticas.

“O que faremos é continuar nosso trabalho (em 2018). Claro que, como cidadão, há tensão sobre as eleições se aproximand­o, mas eu vou seguir fazendo meu trabalho. É claro que se espera que as pessoas façam boas escolhas. Há bons políticos. E é importante que se sobressaia­m”, disse Moro.

“Se a maioria do Congresso não aprova o pacote anticorrup­ção, basta que a sociedade coloque lá quem vai aprovar. Entidades estão desenvolve­ndo um grande pacote para combater a corrupção.” Deltan Dallagnol COORDENADO­R DA FORÇA-TAREFA

 ?? HELVIO ROMERO/ESTADÃO ?? Plateia. Público no Fórum Estadão Mãos Limpas e Lava Jato no auditório do ‘Estado’; para Dallagnol, combate à corrupção depende da sociedade
HELVIO ROMERO/ESTADÃO Plateia. Público no Fórum Estadão Mãos Limpas e Lava Jato no auditório do ‘Estado’; para Dallagnol, combate à corrupção depende da sociedade

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil