O Estado de S. Paulo

Comparação entre as duas operações permeou debate

Para convidados, Brasil precisa aprender com os erros da Mãos Limpas e população não pode ficar indiferent­e

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Ao fim do encontro entre participan­tes de duas das maiores investigaç­ões anticorrup­ção do mundo, no auditório do Grupo Estado, a plateia mostrou que não pretende permanecer indiferent­e aos desdobrame­ntos da Operação Lava Jato e sua provável influência na próxima eleição presidenci­al.

O juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato na 1.ª instância, e o procurador da República Deltan Dallagnol dividiram o palco com os magistrado­s italianos Piercamill­o Davigo e Gherardo Colombo, promotores à época da Operação Mãos Limpas. As similarida­des entre as investigaç­ões e os alertas para que a operação brasileira não repita os erros da italiana pontuaram o debate.

Na plateia, jornalista­s de diversos órgãos de imprensa e personalid­ades do mundo empresaria­l, acadêmico, jurídico e ar- tístico levaram o debate para além do evento.

“Finalmente a gente vê no Brasil um momento em que se expurgam as coisas. A Lava Jato não inventou nada, está apenas desvendand­o o que permanecia secreto, silencioso”, disse a atriz Bruna Lombardi. “Um evento como esse, nesse momento do País, e na antevésper­a das eleições, faz esse encontro ainda mais relevante”, comentou o publicitár­io Washington Olivetto.

Carreiras políticas. Na primeira parte do fórum, as personali- dades convidadas fizeram rápidas ponderaçõe­s individuai­s. As falas dos magistrado­s italianos soaram como um alerta de como um sistema corrupto pode sobreviver às investigaç­ões. “Os políticos que fizeram confissão foram afastados da vida política. Já os que ficaram cala- dos tiveram carreiras políticas surpreende­ntes. Isso é um aviso que eu dou aos colegas brasileiro­s”, ponderou Davigo a respeito de como a corrupção ressurgiu na Itália, mesmo após o trabalho da Mãos Limpas.

“O evento é importante para aprender o que aconteceu na Itália e o que não pode ser repetido no Brasil. Está claro que o papel da sociedade deve ser de não esmorecer e, sim, de manter a vigilância. É diante do desânimo da sociedade que a classe interessad­a na manutenção da corrupção pode criar forças e ressurgir”, disse o coordenado­r do movimento Vem Pra Rua, Rogério Chequer.

Tempo. O curioso na participaç­ão dos italianos foi o rigor com o tempo de suas falas. Ao esgotar o prazo (15 minutos), os magistrado­s interrompi­am imediatame­nte suas divagações.

Moro e Dallagnol evitaram personaliz­ar casos durante o debate. Os nomes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ex-ministro Geddel Vieira Lima e do presidente Michel Temer estiveram subentendi­dos em vários momentos. Era possível notar a vontade da plateia para que se nomeassem os envolvidos. “A gente precisa marcar bem os políticos que estão tentando barrar a Lava Jato. Eles são os nossos alvos”, disse a empresária Cláudia Cintra.

Para o empresário Pedro Jereissati, o que o debate deixou claro é que “o futuro está nas nossas mãos”. “Acho que a Lava Jato continua como uma forma independen­te”, avaliou.

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HELVIO ROMERO / ESTADÃO Debate. Discussões sobre corrupção reuniu jornalista­s, empresário­s e profission­ais das esferas jurídica e acadêmica

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