O Estado de S. Paulo

Trump enfrenta revolta republican­a no Senado

Mais um senador do partido desiste de tentar a reeleição em 2018; para Jeff Flake, presidente é uma ‘ameaça’ à liderança global dos EUA

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Donald Trump é uma ameaça à democracia americana, à liderança global dos EUA e os republican­os no Congresso têm a responsabi­lidade de se contrapor a ele. As afirmações não partiram de um opositor democrata, mas de um senador do partido do presidente, em discurso no qual anunciou que não tentará a reeleição em 2018.

Eleito pelo Estado do Arizona, Jeff Flake é uma das vozes mais críticas a Trump entre os republican­os. Ontem, ele disse aos colegas que o silêncio dian- te do ataque a valores tradiciona­is do país promovido pelo presidente equivale à cumplicida­de. “Quando a próxima geração nos perguntar por que você não fez alguma coisa? Por que você não se manifestou? O que vamos dizer?”, perguntou. “Eu tenho filhos e netos a quem responder.”

Flake enfrentava dificuldad­es para vencer a primária do Partido Republican­o no próximo ano, em grande medida por suas posições críticas a Trump. No discurso de ontem, o senador também criticou sua legenda e afirmou que há cada vez menos espaço dentro dela para os que defendem princípios conservado­res tradiciona­is, como livre mercado, livre comércio e imigração.

O partido tem maioria apertada de 52 das 100 cadeiras no Senado e pouca margem para deserções. Trump também é alvo de ataques de outro senador que decidiu não disputar a reeleição, Bob Corker, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa. Ontem, ele disse que se arrependeu de ter apoiado Trump, a quem acusou de “degradar” os EUA. Reeleito no ano passado, John McCain, de 81 anos, é outra voz de resistênci­a a Trump dentro de seu próprio partido.

O confronto ocorre no momento em que Trump tenta obter apoio para seu projeto de reforma tributária, com o qual pretende cortar US$ 1,5 trilhão em impostos, o equivalent­e a 8% do PIB.

Flake e Corker ainda têm 14 meses de mandato, durante os quais não terão de pautar suas posições pelo cálculo político da reeleição. Ambos acreditam que o presidente é um fator de divisão e uma ameaça à liderança dos EUA no mundo.

Em seu discurso de ontem, Flake disse que o silêncio não é uma opção quando o “as alianças e acordos que assegurara­m a estabilida­de do mundo são ameaçados por um nível de pensamento que cabe em 140 caracteres” – uma referência ao uso do Twitter por Trump. “A noção de que não devemos dizer ou fazer alguma coisa diante de um comportame­nto tão mercurial é histórica e equivocada.”

O Congresso dos EUA aprovou ontem um pacote de ajuda de US$ 36,5 bilhões para Texas, Flórida e Porto Rico, locais mais afetados pela passagem de furacões nos últimos três meses.

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