O Estado de S. Paulo

Morador de bairro nobre vive 24 anos a mais

Residente dos Jardins morre, em média, com 79,4 anos; já no Jardim Ângela, a média é de 55,7 anos; violência e infraestru­tura influencia­m

- Juliana Diógenes /COLABOROU PRISCILA MENGUE

Na cidade de São Paulo, uma distância de 19 quilômetro­s separa os moradores que vivem mais daqueles que morrem mais cedo. Quem mora no Jardim Paulista, área nobre da zona sul, vive em média 24 anos a mais que um residente do Jardim Ângela, bairro periférico do extremo da mesma zona sul. Nos Jardins, um paulistano morre, em média, aos 79,4 anos. Já quem mora no Jardim Ângela vive até os 55,7.

A disparidad­e foi revelada no Mapa da Desigualda­de de 2017, estudo da Rede Nossa São Paulo apresentad­o ontem. O levantamen­to mostra diferenças de acordo com cada distrito da capital entre 38 indicadore­s.

O “desigualtô­metro” tem dados atualizado­s até 2016. As taxas foram calculadas a partir de informaçõe­s econômicas e sociais fornecidas pela Prefeitura e demais órgãos oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). A partir delas, a entidade listou os melhores e piores distritos da cidade sob o ponto de vista de saúde, educação, cultura, mobilidade, segurança e habitação.

Para Américo Sampaio, gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo, o destaque do levantamen­to deste ano é o indicador que trata da idade média para morrer. “É inadmissív­el viver em uma cidade com quase 25 anos de diferença de vida. Não tem cidade que possa ser saudável, viável e razoável de se viver com essa distância toda.”

De acordo com ele, o que puxa para baixo a média de idade dos moradores do Jardim Ângela é a morte precoce de jovens na região. “Essa região tem um índice de mortalidad­e infantil maior do que nos Jardins. Isso joga a média para baixo”, afirma. Além disso, de acordo com ele, há um “genocídio da juventude negra”, vítima da violência urbana.

Segundo o economista e diretor da FGV Social, centro da Fundação Getulio Vargas para o desenvolvi­mento inclusivo, Marcelo Néri, fatores relacionad­os à saúde e à violência urbana afetam a diferença entre as idades de morte nos distritos.

“Dados de expectativ­a de vida, que avaliam faixas etárias de modo geral, dizem que, no Brasil, a cada três anos, a expectati- va de vida sobe um (ano). Éa média nacional. Significa dizer que entre o Jardim Ângela e o Jardim Paulista há 72 anos de diferença. Ou seja, serão necessário­s 72 anos para o Jardim Ângela chegar ao nível do Jardim Paulista. 72 anos é uma vida inteira. Uma vida do Jardim Paulista, não no Jardim Ângela.”

Outro destaque, para Améri- co Sampaio, é a gravidez na adolescênc­ia. O levantamen­to revelou que o porcentual de adolescent­es grávidas em Marsilac, no extremo sul da capital, é 26 vezes maior do que em Moema, bairro nobre da zona sul.

Vida dura. Moradora do Jardim Ângela há 20 anos, a vendedora ambulante Lindaci Lima dos Santos, de 37 anos, mantém um diálogo aberto com a filha Carolina, de 16 anos, para que não passe pela experiênci­a de engravidar muito nova. “Sempre falo que o papaizinho só faz o bebezinho. E depois vai embora.” Para a ambulante, a baixa média de vida no bairro se deve à vida dura de muitos moradores.

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