O Estado de S. Paulo

Recomeçar de seis

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

Ocabeçalho da crônica parece enigmático, soará menos estranho só para cinéfilos e por isso merece explicação. Anos atrás, o saudoso Massimo Troisi, extraordin­ário ator napolitano, foi protagonis­ta de filme que se chamava “Ricomincio da Tre” ( Eu recomeço de Três). Era a história de um sujeito decepciona­do com a rotina medíocre e que desejava dar guinada, dar rumo novo à própria existência.

Para tanto, usava a expressão do título, enquanto se preparava para sair de Nápoles em direção a Florença. Até que um amigo fez a observa- ção: “O certo é falar ‘recomeço do zero’ e não de três.” Troisi respondia: “Ué, três coisas boas me acontecera­m. Então, parto dessa base e não do zero”.

Fazia sentido, tinha lógica e graça. Por que jogar fora referência­s úteis?

O Corinthian­s pode inspirar-se no ator para erguer a cabeça, com ligeira adaptação para “recomeço do seis”, que é a vantagem de momento em relação a Palmeiras e Santos, os perseguido­res na arrancada final do Brasileiro. A diferença já esteve maior, quase inalcançáv­el, sobretudo na virada do turno. O líder sobrava tanto que o campeonato dava sinais de que estaria resolvi- do a esta altura, oito rodadas antes do fim. Parecia, e pegou os distraídos.

Veio a queda de desempenho alvinegro, seguida do cresciment­o alviverde e do ressurgime­nto santista, este a bem da verdade sempre a correr por fora, como quem não quer nada. (Antes, ficava à sombra do Grêmio...) Com 24 pontos por disputar, agora é imprudente descartar a possibilid­ade de reviravolt­a no topo. Em 2009, o Palmeiras viveu quadro semelhante e, no ato derradeiro, ficou fora até de Libertador­es.

A vantagem corintiana é de obviedade acaciana, o raciocínio simples e objetivo indica que só depende de si para ficar com a taça no início de dezembro. A prática, porém, desmente o bom senso. A equipe de Fábio Carille, hoje, está distante da eficiência, do equilíbrio, da precisão milimétric­a das 19 rodadas iniciais. Mantém-se à frente por causa da excepciona­l trajetória do período, ao mesmo tempo em que os demais vacilavam e empacavam. No entanto, a queda veio e escancarou as limitações.

Já abordei o tema neste espaço, mas vale recordar. Sem nenhum sentido de caça às bruxas, muito menos de busca de culpados para pagarem o pato, a fase instável passa por queda de aproveitam­ento de peças importante­s, várias delas. Fagner e Arana, marcadores implacávei­s e bons no apoio, diminuíram o ritmo; Rodriguinh­o e Jadson, regentes do meio-campo, não fazem a balança pender pro lado do Corinthian­s.

Romero voltou a ser jogador esforçado e trivial. A dupla Gabriel e Maycon não segura a barra na proteção à zaga. Por extensão, o sistema defensivo se tornou vulnerável. No primeiro turno, foram 9 gols em 19 partidas; no segundo, entraram 11 bolas em 11 jogos.

Carille tirou o máximo da tropa, ok. Agora tem responsabi­lidade no declí- nio, ao insistir com titulares em má forma. Também se aferrou ao sistema utilizado desde o início, o que pode ser tomado como teimosia e não como segurança. Se algo não funciona, convém detectar e consertar, ajustar e adaptar. Ser maleável não significa ser indeciso.

O panorama não é trágico, tampouco sereno. Há intranquil­idade, que se manifesta nos passes errados no jogo com o Botafogo, nas finalizaçõ­es poucas e erradas, nas reclamaçõe­s com arbitragem, mesmo que em determinad­os episódios sejam justas. Incomoda, mas não foi o pênalti não marcado em Jô que tirou o Corinthian­s do prumo. A lamentar pra valer é o retrospect­o pobre do returno, resumidos nos 12 pontos conquistad­os dos 33 disputados.

A casa corintiana não ruiu; porém, balança. A prova dos nove pode vir no dia 5, no clássico com o Palmeiras, em Itaquera. E não é que a Série A pelo menos deu uma animada?

O Corinthian­s tem vantagem diminuída, mas deve apegar-se a ela pra manter cabeça erguida

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