‘O RACISMO NO BRASIL É TÃO DISFARÇADO QUE É DIFÍCIL LUTAR’
1.É possível imaginar que os esportistas brasileiros protestem como os norte-americanos? Embora sejam espaços de luta política em geral, os esportes não têm sido um espaço de protesto individual e coletivo historicamente no Brasil. O câncer do mito da democracia racial está tão impregnado que leva muitos brasileiros, inclusive negros, a ignorar o racismo. O racismo à moda brasileira sempre foi tão disfarçado que até lutar contra ele é difícil porque se manifesta de um modo muitas vezes sutil. No Brasil, embora grande parte dos jogadores famosos e de clubes importantes seja formada por afrodescendentes, em função de sua posição social privilegiada muitas vezes não se veem como negros e não se identificam com os homens e mulheres negros e negras que no dia a dia são vítimas da violência policial mortífera e que compõem a maior parte da população carcerária. A razão pela qual os jogadores da NFL, dos EUA, protestam não é fruto de um problema de injúrias raciais em campo. É parte de uma reação à revitalização da supremacia branca e aos casos frequentes de violência contra jovens negros.
2.Quais as estratégias de superação do racismo? Qual é o papel do esporte nisso? Nos dois países, as organizações negras devem pautar as estratégias para lutar contra o racismo. Educação é fundamental. A legislação brasileira já prevê o ensino de história afro-brasileira, por exemplo. A ampliação das ações afirmativas para ingresso nas universidades públicas, cotas para concursos de docentes no ensino superior e para o acesso geral ao serviço público também são estratégias. O reconhecimento público de que a violência policial tem como alvo principal os negros e a criação de medidas para remediar essa situação que, no caso do Brasil, beira a definição de genocídio, é outra medida. A descriminalização do uso de drogas e a reforma do sistema penitenciário são cruciais. O papel do esporte pode ser o de se tornar um espaço de promoção da diversidade racial e da tolerância.