O Estado de S. Paulo

‘ Precisamos fazer as coisas seriamente em vez de reclamar’

Para empresária, mesmo quem começa vendendo cachorro-quente pode se tornar um grande negociante

- Letícia Ginak ESPECIAL PARA O ESTADO

Conhecida como a “dama da hotelaria brasileira” por empresário­s e funcionári­os, Chieko Aoki, fundadora da rede Blue Tree Hotels, acredita que “cada um tem de saber mudar o país e trabalhar com seriedade”. Ela participar­á no sábado da Semana Pró-PME dividindo suas experiênci­as no módulo “Como ter um negócio duradouro na crise e na expansão”.

A sra. começou a empreender na década de 90. Como vê o cenário atual?

Eu vi pelos dados do mercado que o número de empreended­ores aumentou significat­ivamente nesse período de crise. Talvez porque perderam o emprego, e acredito que deve ser, provavelme­nte, a grande maioria. Mas nada impede que eles sejam grandes empreended­o- res de sucesso. Muitas vezes, achamos que empreended­or é aquele que faz um grande negócio ou tem uma ideia genial. Mas mesmo um pequeno vendedor, que começa com uma barraca de cachorro-quente, pode ser um grande empreended­or.

O Brasil está procurando estabilida­de econômica e política. A sra. acredita que os empreended­ores vão ter condições de se profission­alizar?

Não desenvolve­mos as pessoas, as pessoas se desenvolve­m. E não desenvolve­mos o empreended­or, nós criamos condições. Mas aquele que sabe o que quer, que se apaixona e se dedica, esse vai se tornar um grande empreended­or. A vida precisa de gente que faça coisas seriamente, mesmo que sejam pequenas. Reclamamos que o governo isso, que a economia aquilo… Reclamar é a coisa mais fácil. Em vez de re- clamar, você precisa fazer as coisas com seriedade, se aprofundar, ter uma produtivid­ade melhor. São essas pessoas que mudam o País. Não é o governo sozinho que muda.

Em 2006, a sra. presidiu o grupo de Mulheres Líderes Empresaria­is (Lidem). Como enxerga o papel da mulher no mercado de trabalho, especialme­nte em posições de liderança?

Existem vários grupos com mulheres muito sérias preocupada­s em fazer com que o Brasil seja o país que nós queremos. E as mulheres estão aprendendo que ficar reclamando não dá certo. Acho que quanto mais mulheres estiverem em cargos de liderança, com certeza elas vão ter muitas amigas igualmente competente­s, que vão indicá-las para outros cargos importante­s e assim por diante. Vai se criar um ciclo virtuoso de mulheres subindo puxando umas às outras. E as mulheres são melhor formadas nas universida­des, fazem mais pós-graduação, conseguem lugares nas melhores escolas. Condições a mulher tem. E muitas.

E o que está faltando?

O que está faltando é que nós mesmas, e principalm­ente os homens, precisam ter consciênci­a de que as mulheres em cargos de liderança estão fa- zendo a diferença. Diversos fóruns pelo mundo já comprovara­m que as mulheres estão fazendo trabalhos extraordin­ários, porque humanizam a empresa. E cada vez mais as empresas estão buscando como fazer com que as suas equipes estejam felizes e produtivas. Precisamos de empurrão? Sim, no sentido de uma ajudar a outra. E os homens precisam ajudar a abrir a porta para as mulheres. Isso com certeza vai dar mais velocidade às mudanças positivas no mundo.

A sra. tem importante experiên- cia no mercado internacio­nal. Vê alguma diferença no gestor ou na forma de gerir um negócio no Brasil e no exterior?

Acho que problemas existem em todo lugar. O que é importante no final é que as pessoas se sintam bem, felizes nas suas empresas e que produzam bem.

Na Semana Pró-PME a sra. vai falar com pessoas que pensam em empreender, mas ficam paralisada­s, principalm­ente em tempos de crise. O que pretende falar para essas pessoas?

Cada negócio tem a sua pecu- liaridade, mas existem princípios comuns. Por exemplo, as pessoas dizem que temos de ser determinad­os, persistent­es etc. Isso é normal em qualquer empreendim­ento, com crise ou sem crise. Agora, em uma crise, se você consegue encontrar um propósito, uma razão de ser naquele negócio, não é tão doloroso, porque você consegue superar melhor as dificuldad­es que qualquer negócio tem nos bons e nos maus tempos. Você consegue superar melhor quando você encontra o significad­o daquilo que você faz. Isso é fundamenta­l.

 ?? IARA MORSELLI/ESTADÃO-19/1/2017 ?? Paixão. ‘Quem sabe o que quer, se apaixona e se dedica, será um grande empreended­or’
IARA MORSELLI/ESTADÃO-19/1/2017 Paixão. ‘Quem sabe o que quer, se apaixona e se dedica, será um grande empreended­or’
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