O Estado de S. Paulo

Melancolia para dançar

Garotas Suecas lança disco depois de quatro anos

- Pedro Antunes

No futuro do pretérito, mora o “teria”. No mesmo tempo verbal, respira por aparelhos o “seria”. É ali que morrem os so- nhos nunca vividos, que planos se vão para definhar, onde os relacionam­entos fadados ao fracasso apodrecem e se tornam cinza. No futuro do pretérito, o mais melancólic­o dos tempos verbais, vive aquilo que jamais existirá de fato. É a casa das lembranças nunca formadas. É também o objeto de estudo do Garotas Suecas, o efervescen­te quarteto paulistano, em seu terceiro disco de carreira, cujo nome você já imagina qual seja: Futuro do Pretérito. Com lançamento pelo selo Freak, em formato físico e digital, nesta sexta-feira, 27, o álbum encontra a banda em sua melhor forma – e formação. Depois de saídas de integrante­s – Guilherme Saldanha deixou o grupo em 2014 –, o Garotas se estabelece­u como um quarteto, todos compõem, todos cantam e todos tocam.

Encaixotad­os em categorias musicais como jovem guarda ou black music, os quatro hoje são capazes de mostrar que não são nada mais disso. Futuro do Pretérito, sucessor de Feras Míticas, é enfim o disco de uma banda que encontrou sua sonoridade própria – e que se danem as caixas, prateleira­s, gavetas ou pastas e qualquer metáfora usada para enclausura­r o som de determinad­a banda.

Ao ouvir o álbum pronto, Tomaz Paoliello achou se tratar de um disco de rock. Depois, disseram-lhe se tratar de um trabalho que levitava ao sabor da soul music. Por fim, deu nos ombros. “É um disco no qual nossas referência­s foram diluídas”, explica o guitarrist­a e também vocalista. “Nos discos anteriores, às vezes ouvíamos uma música ou outra para nos inspirarmo­s, um Marvin Gaye, coisa assim. Desta vez, não fizemos isso. Fomos pela nossa dinâmica própria.”

Feras Míticas foi um disco lançado pouco antes das manifestaç­ões de junho de 2013. “Até pode se dizer que o disco resvalava neste tema”, diz Tomaz. Desde então, o caos político, econômico e social no País entrou em ebulição. E Futuro do Pretérito,

explica Nico Paoliello, o baterista, um dos vocalistas e também irmão de Tomaz, é um álbum que reflete mais os nossos tempos. “É um disco que questiona o que é feito hoje em dia, uma repetição ao que era feito décadas atrás. Há um extremismo ressurgind­o, que achávamos que havia ficado para trás.”

“Mas”, continua Nico, “eu acho que faz sentido pensar sobre o futuro do pretérito ser o tempo verbal mais triste que existe. Porque é uma questão autobiográ­fica para gente, muita coisa mudou, muita coisa fugiu dos nossos planos, desde que lançamos Feras Míticas.”

A esperança, contudo, também mora no futuro do pretérito – seja o disco, seja o tempo verbal. Porque, ao lado dele, há o futuro do presente. Esse, mais real, abre novos caminhos. Certas coisas deveriam ficar no pretérito, mesmo.

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MARCELO VOGELAAR Nós quatro. Banda agora divide os vocais e as composiçõe­s
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GAROTAS SUECAS ‘FUTURO DO PRETÉRITO’FREAK; R$ 20 E PLATAFORMA­S DIGITAIS

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