Escolas bilíngues atraem famílias
Com horas a mais de estudo por semana, aluno se forma pelos currículos brasileiro e estrangeiro
Ter a oportunidade de conseguir um diploma americano de ensino médio sem sair do Brasil. Essa ideia vem atraindo um número crescente de famílias para programas de high school oferecidos por escolas particulares de São Paulo e várias outras cidades do País. Em geral, o adolescente tem algumas aulas extras no contraturno, oferecidas totalmente em inglês. As disciplinas básicas do currículo brasileiro são convalidadas por uma instituição de ensino oficial do exterior. Dessa forma, com algumas horas a mais de estudo por semana, os alunos saem com dois diplomas, um brasileiro e outro estrangeiro.
Há mais de dez anos o Colégio Pio XII, na zona sul de São Paulo, já oferece essa possibilidade às famílias, por meio de um convênio com o ensino médio da Universidade de Missouri. Além da intenção de estudar fora do País na gradua- ção, há outros pontos que levam as famílias a optarem pelo high school, diz Heloísa Parciasepe, coordenadora do programa. “Eles buscam um foco diferente em relação ao aprendizado de inglês, querem desenvolver outras habilidades, como a oralidade.” De acordo com Heloísa, o high school oferece a “mobilidade pela educação”.
No modelo do Pio XII, os professores são todos estrangeiros e a aulas são 100% presenciais. Duas tardes por semana os alunos ficam na escola até as 17h30. Apesar do tempo extra, a coordenadora garante que não fica cansativo, porque são conteúdos muito diferentes. “Eles estudam saúde, debate, marketing, economia, planejamento de carreira”, cita. Para seguir com sucesso os dois programas, é preciso apenas certa organização, para manter as tarefas em dia, sem deixar nada ficar acumulado, recomenda.
Mais do que falar. Eva López, mãe de Javier, quis que o filho cursasse o high school do Pio XII para ter uma fluência melhor de inglês. “É a língua oficial do mundo. Achei que a carga horária do currículo brasileiro seria insuficiente”, conta ela, que veio com a família da Espanha, onde o currículo básico oferece mais hora sema- nais do idioma. Mas ela acredita que há ganhos para além da fluência: “É diferente do inglês da escola regular, em que se aprende muita gramática, mas você sai sem saber falar”, constata Eva.
Javier, de 15 anos, gostou da ideia de cursar o high school porque tem vários planos de estudar fora do Brasil. “No ano que vem, quero passar um semestre no Canadá. Para fazer faculdade, é mais fácil em uma universidade americana, mas minha vontade é ir para Espanha”, conta.
De qualquer forma, ele acredita que o diploma dos Estados Unidos vai ajudar.
Independentemente do que fará no futuro, Javier gosta do que aprende no programa. “Não estudo gramática, masa literatura. Tem também aula de saúde com muita conexão com Ciências. Em História, agente está comparando os mitos gregos com os orientais”, diz. Além do high school, que vai do 9.º ano do fundamental ao 2.º do ensino médio, a escola passou recentemente a oferecer middle school, para estudantes dos 7.º e 8.º anos. A abordagem é diferente, seguindo a lógica interdisciplinar focada em projetos STEM (sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática).
A oferta de middle school também é feita pelo Colégio Dante Alighieri, na zona oeste de São Paulo, que já tem tradição no high school. Rossella Beer, coordenadora dos programas, diz que havia demanda das famílias, que gostariam de iniciar antes esse estudo em inglês. “Quanto mais cedo, melhor, porque o cérebro é mais plástico”, explica ela sobre as vantagens do middle school. “A gente percebe que a família quer investir numa educação que prepara para o mundo da melhor forma possível. O programa do middle
school, além do inglês, vai preparar para saber decidir, saber conversar, entender os problemas do mundo. Algo que é levado em conta no mercado de trabalho nacional e internacional.”
Outros modelos. No Colégio Marista Arquidiocesano, na zona sul de São Paulo, a oferta de high school começou em 2017, como parte de um projeto amplo de internacionalização, que incluiu mais aulas de inglês dentro do currículo regular, optativas de inglês e viagens de imersão. Uma parte das aulas é feita online. Assim, o aluno tem mais flexibilidade e pode terminar os créditos do high school mais rapidamente, ou com mais tempo.
“A gente recomenda fazer em dois anos e meio. Assim, tem quem comece no 9.º ano, mas dá para fazer também a partir do 1.º ano do ensino mé- dio e terminar um semestre antes do vestibular”, explica Alan Dantas, coordenador de idiomas. O modelo de ensino é o chamado PBL, sigla para Problem Based Learning (aprendizado com base em problemas). “Há uma perguntaguia e os alunos desenvolvem projetos interdisciplinares.”
No Colégio Fecap, na zona central de São Paulo, o convênio para o high school foi firmado com uma instituição canadense. Enquanto está no Brasil, o aluno vai cumprindo créditos obrigatórios e eletivos numa plataforma online. No fim, ele passa um semestre estudando presencialmente na escola canadense em Victoria, na província de Columbia Britânica. “As famílias todas se interessam, porque entendem a importância da internacionalização. O impeditivo principal de não termos mais adesão é o preço do progra- ma”, diz Marcelo Krokoscz, diretor do colégio.
“Eu já pensava em sair do País antes. Quando a escola apresentou a proposta, minha família achou interessante, porque abre mais possibilidades para mim”, diz João Pedro Passani, de 17 anos, que pretende fazer Administração no exterior. João Pedro viaja no próximo semestre para cursar a parte do currículo no Canadá. “A questão da adaptação me deixa um pouco apreensivo, mas tenho amigos que já foram e só falaram coisas boas.”