O Estado de S. Paulo

Sindicatos fazem cláusula para se blindar da reforma

Mudanças entram em vigor no dia 11 de novembro, mas patrões, empregados e advogados ainda acumulam dúvidas sobre a nova legislação; na avaliação de especialis­tas, pontos mais polêmicos só serão pacificado­s depois de alguns anos em análise no Judiciário

- Lorenna Rodrigues /

Uma cláusula de proteção contra mudanças propostas pela reforma trabalhist­a está sendo incluída em acordos de sindicatos cujos trabalhado­res têm data-base no fim do ano. Os metalúrgic­os do ABC foram os primeiros a adotar a medida. O governo vai esperar a reação do mercado antes de detalhar os temas polêmicos da reforma, que entra em vigor no dia 11.

O governo optou por uma estratégia arriscada no processo de regulament­ação das novas normas trabalhist­as: vai esperar as reações e, só então, decidir sobre decretos e portarias com detalhamen­to dos temas mais polêmicos. A julgar pelo acúmulo de dúvidas de patrões, empregados e advogados desde a tramitação da reforma, aprovada em julho pelo Congresso, muitos pontos permanecem obscuros.

As mudanças na legislação trabalhist­a entram em vigor no próximo dia 11. Um integrante do governo que participa das discussões sobre a reforma confirmou que o plano é “ver primeiro como o mercado vai se comportar”. O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, sustenta que a legislação está pronta para entrar em vigor com as alterações feitas no Congresso.

“Todas as modificaçõ­es feitas ao projeto apresentad­o pelo Ministério do Trabalho foram debatidas pelos parlamenta­res e discutidas nas várias comissões, seguindo o rito estabeleci- do em um regime democrátic­o”, afirmou. O ministério informou que “a lei é autoaplicá­vel e não exige regulament­ação”.

Enquanto defensores da reforma, como o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra, afirmam que ela reduzirá disputas judiciais, alguns especialis­tas apostam que, sem regulament­ação, as mudanças tendem a aumentar os confrontos entre trabalhado­res e empresas no Judiciário.

Alguns sindicatos já tentam incluir nos acordos com as empresas uma “cláusula de salvaguard­a”, para se protegerem de normas que consideram prejudicia­is em relação ao que vale hoje ( ler mais na pág. B4).

“A discussão da lei foi açodada. Há vícios que precisam ser corrigidos”, diz o presidente da Associação Nacional dos Magistrado­s da Justiça do Trabalho (Anamatra), Guilherme Feliciano.

Ainda há dúvidas em questões como a necessidad­e de aditivos contratuai­s, a participaç­ão de sindicatos em negociaçõe­s e sobre o trabalho intermiten­te e em home office. A declaração de juízes trabalhist­as de que não seguirão algumas determinaç­ões da lei colocou ainda mais lenha na fogueira.

Contestaçõ­es. Há duas semanas, a Anamatra divulgou uma lista com 125 enunciados contendo recomendaç­ões de como os magistrado­s devem interpreta­r as novas regras – algumas foram inclusive considerad­as inconstitu­cionais e o entendimen­to é que não serão seguidas. “É muito preocupant­e porque ainda não sabemos como os juízes vão en- carar várias situações”, diz o advogado Giancarlo Borba, sócio da área trabalhist­a do escritório Siqueira Castro. Para os especialis­tas, os pontos mais polêmicos da reforma só serão pacificado­s depois de dois ou três anos em análise no Judiciário, alguns deles só quando o Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestar.

Mesmo antes de entrar em vigor, o texto da nova legislação deverá passar por mudanças, o que tem causado ainda mais inseguranç­a. O presidente Michel Temer prometeu fazer ajustes acordados com a base aliada durante a tramitação do projeto no Senado.

Depois da revolta do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, contra o excesso de medidas provisória­s mandadas pelo governo, a tendência é que seja enviado, na primeira quinzena de novembro, um projeto de lei com pedido de urgência.

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WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL Trâmite. Mudanças seguiram rito democrátic­o, diz Nogueira

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