O Estado de S. Paulo

Vende-se mansão de 4,5 mil m2

Quem tiver R$ 78 milhões no bolso poderá comprar a casa (e os móveis) do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, que vai a leilão em 20 de novembro.

- Fernando Scheller / TEXTOS Tiago Queiroz / FOTOS

Ahistória da mansão construída pelo ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira não terminou com a saída da família do imóvel, em 2011. Um dos milhares de bens incluídos no processo de falência do Banco Santos, iniciado há 13 anos, a casa continua a colecionar bons casos. Apesar de a mansão estar fechada, deteriorad­a e desprovida da maioria das obras de arte que a transforma­vam em uma espécie de museu particular dos Cid Ferreira, ainda há ocasionais momentos de glória: a icônica cena de nu da atriz Paolla Oliveira na série Felizes para Sempre?, da TV Globo, foi filmada ali, em 2014. Há seis anos sem moradores, a casa é todos os dias vigiada por funcionári­os da administra­ção da massa falida do banco, encarregad­os da manutenção do imóvel.

Localizada no topo de uma ladeira no Morumbi, a mansão pode finalmente mudar de mãos. A empresa Superbid, com o administra­dor da massa falida do banco, Vânio Aguiar, marcou leilão online do imóvel para 20 de novembro. O lance mínimo é de R$ 78 milhões. Embora o leilão inclua outros bens, como um edifício invadido e terrenos na Marginal Pinheiros, considerad­os melhores opções de investimen­to, o ponto central do certame é, inevitavel­mente, a casa. Não é todo dia, afinal, que se pode ficar a apenas um clique do estilo de vida dos megarricos.

Superlativ­a. A curiosidad­e é justificad­a pelo estilo superlativ­o do imóvel. Instalada em terreno de 12 mil m², a

residência tem 4,5 mil m ² de área construída e inclui facilidade­s como duas piscinas – uma coberta e outra ao ar livre –, uma adega que abriga 5 mil garrafas de vinho, duas biblioteca­s (com coleção de livros de arte incluída) e vista panorâmica da cidade, com os páreos de domingo do Jockey Club de São Paulo em primeiro plano. Algumas obras de arte de difícil remoção – como pesadas esculturas hoje meio esquecidas em um dos cômodos – vão no pacote do leilão, assim como alguns móveis escolhidos pelos Cid Ferreira nos tempos de bonança. Só a mesa de jantar de 24 lugares custou, na época, US$ 350 mil (mais de R$ 1 milhão). O idílio do banqueiro, da mulher e de seus filhos na casa, no entanto, foi curto. Depois de dois anos de obras, a mansão ficou pronta poucos meses antes da falência do Banco Santos ser decretada. E Cid Ferreira foi obrigado a repensar o uso de certas alas de seu palácio. Conhecida pelo fascínio por arte – mesmo após a venda de boa parte do acervo, ainda restam na residência quadros e esculturas avaliadas em R$ 11 milhões, a serem negociados separadame­nte –, a família reservara uma ala da mansão pa- ra suítes que abrigariam artistas importante­s de passagem por São Paulo. Logo, porém, os quartos tiveram sua função modificada: viraram um bunker da defesa do ex-banqueiro, com pilhas de processos tomando todo o espaço. Depois de os Cid Ferreira terem sido obrigados a deixar a casa, todos os cômodos foram esvaziados, embora alguns objetos pessoais dos ex-bilionário­s, incluindo camas e aparelhos de ginástica, tenham sido deixados para trás. Nesses últimos seis anos, a residência – que, em um certo período, contabiliz­ava quatro moradores e 54 empregados –, custou R$ 8 milhões à massa falida. Isso porque o projeto do arquiteto Ruy Ohtake já incluía, 15 anos atrás, a automação de persianas e um sistema completo de ar-condiciona­do – luxos que elevaram a conta de luz para R$ 100 mil por mês. Além dos gastos fixos salgados, um eventual novo dono também terá de arcar com uma reforma, já que os problemas se proliferam entre corredores de mármore e escadarias suntuosas: há pisos de madeira podres, lâmpadas caídas e portas que já não abrem e nem fecham.

Na briga. A chance de que o leilão não saia do papel ainda é consideráv­el. Primeiro, por uma questão mercadológ­ica. O interesse por mansões do gênero está em baixa no momento. E, segundo, porque o advogado Luiz Augusto Winther Rebello já entrou com um agravo e um pedido de liminar para impedir, mais uma vez, o leilão – o Estado tentou falar diretament­e com Edemar Cid Ferreira, mas não obteve retorno. O advogado entende que a casa deve ser repassada ao condomínio de credores que tem feito a venda e renegociaç­ão de ativos do banco. “Não pode ter dois pesos e duas medidas.” O administra­dor da massa falida, Vânio Aguiar, argumenta, no entanto, que a venda rápida é a melhor solução, pois o imóvel perde valor tanto por sua depreciaçã­o quanto pela crise econômica. Há quatro anos, quando a mansão de Edemar Cid Ferreira quase foi a leilão, era avaliada em R$ 120 milhões. Agora, o preço caiu para menos de R$ 80 milhões. Pelas regras do evento agendado para novembro, caso um interessad­o não apareça em um primeiro momento, pode ser aplicado desconto adicional, que reduziria o desembolso para cerca de R$ 50 milhões. Se não haja disputa, o comprador ainda poderá pedir parcelamen­to em três vezes. Apesar do alto desembolso, da necessidad­e de reparos e da possível dor de cabeça jurídica que o comprador pode enfrentar, o leiloeiro Renato Moysés acredita que a mansão dos Cid Ferreira carregue certo fetiche para os aficionado­s em luxo. Em 2005, Moysés ajudou a vender móveis e objetos do escritório do Banco Santos e diz ter presenciad­o disputa ferrenha por itens corriqueir­os, como aparelhos de TV e mesas de trabalho. O leiloeiro disse que a Superbid já recebeu telefonema­s de gente interessad­a em comprar a cama do ex-banqueiro. Desta vez, porém, para satisfazer o desejo de dormir como um bilionário, será preciso gastar como um.

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FOTOS: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO Opções. Casa é marcada por escadarias, mas tem elevadores
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Aposta. Moysés: luxo atrai ‘fetiche’
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Tempo. Fachada do imóvel: necessidad­e de manutenção

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