O Estado de S. Paulo

Ministros poderão pagar própria emenda

Titulares do Turismo, Cidades e Meio Ambiente reassumira­m mandato na Câmara e apresentar­am propostas vinculadas às pastas que comandam

- Isadora Peron / BRASÍLIA

Oito ministros que reassumira­m os seus mandatos na Câmara dos Deputados para votar pela suspensão da segunda denúncia contra Michel Temer, na quarta-feira passada, apresentar­am emendas parlamenta­res para destinar recursos aos seus respectivo­s redutos eleitorais. Levantamen­to feito pelo Estado mostrou que três deles encaminhar­am emendas vinculadas às pastas que comandam: Marx Beltrão (Turismo), Bruno Araújo (Cidades) e Sarney Filho (Meio Ambiente).

Na prática, essas emendas, que juntas somam R$ 12,3 milhões, poderão ser liberadas pelos próprios ministros. Na avaliação de técnicos da Comissão Mista do Orçamento de Congresso, o fato de o ministro ter indicado emenda vinculada à pasta que comanda facilita o processo de fazer com que o di- nheiro chegue ao destino final com mais celeridade.

Deputado pelo PMDB de Alagoas, Beltrão apresentou cinco emendas para “apoio a projetos de infraestru­tura turística” em várias cidades, totalizand­o R$ 6,4 milhões. Dois dos municípios que podem ser beneficiad­os são administra­dos por tios do ministro: Piaçabuçu e Feliz Deserto.

Em nota, a assessoria do ministro negou conflito de interesse. “O Ministério do Turismo entende que não há conflito de interesse na indicação de qualquer emenda parlamenta­r para Estados ou municípios inquestion­avelmente turísticos como é o caso de Alagoas”, afirmou.

Já Bruno Araújo, do PSDB de Pernambuco, destinou uma emenda de R$ 5,8 milhões para “apoio à política nacional de desenvolvi­mento urbano”. Neste ano, o ministro tucano já empenhou R$ 5 milhões de emendas próprias com verba do Ministério das Cidades. A assessoria da

pasta afirmou que “não há conflito de interesses quando todas as emendas são obrigatóri­as por determinaç­ão constituci­onal”. “A emenda será empenhada independen­temente se o titular for ministro ou não. O tratamento é equânime para qualquer parlamenta­r.”

No caso de Sarney Filho, do PV do Maranhão, foi uma emenda de R$ 100 mil para apoio a “ações de educação ambiental

voltadas para a realização da Copa Verde”, um campeonato de futebol que reúne times do Norte e do Centro-Oeste do País. A assessoria do Ministério do Meio Ambiente disse que essa era questão relativa ao mandato parlamenta­r do ministro e não se manifestou.

Titular da pasta responsáve­l pela liberação de emendas, o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB-

BA), também apresentou suas emendas quando retornou à Câmara, a maioria delas direcionad­a a Salvador, onde já foi prefeito. “As emendas protocolad­as seguem a determinaç­ão legal de que 50% dos recursos sejam destinados à saúde e o restante reflete as demandas apresentad­as pelos municípios”, disse a Secretaria de Governo.

Outros quatro ministros que também se licenciara­m dos car- gos apresentar­am emendas – Mendonça Filho (Educação), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), Ronaldo Nogueira (Trabalho) e Maurício Quintella (Transporte­s) –, mas as propostas não tinham ligação com as pastas que comandam.

Redutos. O prazo para a apresentaç­ão das propostas terminou no dia 20 deste mês. As emendas são as principais ferramenta­s para que deputados e senadores possam indicar benfeitori­as. Em ano de eleição, esse dinheiro é essencial para mostrarem serviço em suas bases e garantirem retorno nas urnas.

De acordo com o Orçamento que está em discussão no Congresso, cada parlamenta­r terá direito a R$ 14,8 milhões em emendas em 2018. Uma vez propostas, elas passam por uma avaliação de um comitê do Congresso. Após a liberação da verba, o órgão responsáve­l recebe aval para a execução.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO-25/10/2017 Plenário. Sessão da Câmara dos Deputados, na quarta-feira passada, que barrou a segunda denúncia contra Temer, teve a participaç­ão de ministros

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