O Estado de S. Paulo

Apoio a posts de Doria nas mídias sociais despenca

Publicaçõe­s do prefeito nas redes sofre forte queda após três meses de engajament­o; para publicitár­io, diminuição do envolvimen­to é ‘natural’

- Daniel Bramatti José Roberto de Toledo Pedro Venceslau

Após um começo fulminante, mas que durou apenas três meses, o engajament­o dos internauta­s com os posts do prefeito João Doria (PSDB) nas mídias sociais desabou, em todas as plataforma­s, a partir de abril. E não foi por falta de esforço: a quantidade diária de publicaçõe­s manteve-se estável ou cresceu.

Houve queda forte nas interações registrada­s no Facebook, no Twitter e no Instagram, segundo dados coletados com a ferramenta Crowdtangl­e, de análise de redes sociais.

No Google, as buscas pela palavra “Doria” cresceram recentemen­te, mas não de uma maneira positiva para o prefeito. O termo mais pesquisado associado a seu nome foi “ração” – por causa da ideia, que o tucano acabou abandonand­o, de misturar comida liofilizad­a e recondicio­nada à merenda escolar, além de distribuí-la para pessoas pobres.

Os termos associados às buscas por “Doria” no Google que tiveram cresciment­o mais repentino também não são positivos, como “ração humana” e “trabalho escravo”. A associação com “Luciano Huck” também é problemáti­ca, pois se trata da mudança de interesse de partidos que antes cortejavam Doria como presidenci­ável e agora focam no empresário e apresentad­or da TV Globo.

Em janeiro deste ano, mês em que tomou posse, Doria chegou a registrar quase 8 milhões de interações no Facebook, a principal rede social no Brasil e no mundo. Em setembro, o número caiu para menos de 1,7 milhão.

Essas interações podem ser comentário­s, compartilh­a- mentos de publicaçõe­s ou mesmo manifestaç­ões de satisfação (“likes”) ou reprovação ao conteúdo.

No Twitter, o prefeito teve um começo menos bombástico que no Facebook. Seu ápice de engajament­o se deu em março, quando 245 mil usuários avaliaram, compartilh­aram ou respondera­m ao conteúdo publicado por Doria. Em setembro, foram apenas 88 mil.

Viagens. A agência Social QI, do publicitár­io Daniel Braga, é quem coordena a estratégia de redes sociais do prefeito. Esse monitorame­nto já detectou reação negativa de parte significat­iva dos seguidores do prefeito às viagens que ele tem feito pelo País ( leia mais abaixo).

Apesar disso, Doria manteve a agenda de roteiros pelo interior paulista, por outros Estados e até por outros países. Até o final de setembro, ele havia ficado 55 dias fora da capital. No mês passado, a Prefeitura de São Paulo enviou ao Ministério Público explicaçõe­s e documentos para comprovar que as viagens não haviam sido custeadas por recursos públicos.

Um dos vídeos mais polêmicos de Doria nas redes sociais foi o que usou para criticar o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, seu correligio­nário no PSDB. “Hoje meu recadinho vai para você, Alberto Goldman, que viveu sua vida inteira na sombra de Orestes Quércia e do José Serra. Você é um improdutiv­o, um fracassado. Você coleciona fracassos na sua vida e agora vive de pijamas na sua casa”, afirmou Doria na ocasião. “Viva com a sua mediocrida­de que fico com o povo.”

O vídeo foi postado como resposta a críticas que Goldman tinha feito ao prefeito, no dia anterior. Assessores de Doria o desaconsel­haram a publicar o ataque, mas ele insistiu. A primeira versão, que não foi divulgada, era ainda mais agressiva e continha o termo “aposentado” – considerad­o sensível para o eleitorado mais velho.

Para o publicitár­io André Torretta, a queda forte da audiência de Doria nas redes sociais indica que o prefeito “caiu na armadilha do imediatism­o”.

“O político não pode vulgarizar a boa notícia. Faltou calendário ao Doria e calma no lançamento das coisas”, afirmou Torretta. “O derretimen­to dele nas redes sociais agora acompanha a desaprovaç­ão do seu governo.”

Franquia. Torretta está implantand­o no Brasil uma franquia da agência Cambridge Analytics, responsáve­l pela bem-sucedida campanha presidenci­al americana de Donald Trump nas redes sociais em 2016.

Torretta diz já ter fechado contrato com dois candidatos a senador e um a governador para trabalhar na campanha presidenci­al. Os políticos contarão com um serviço coleta de dados de eleitores que combina hábitos.

A ideia é usar as redes para atingir grupos de interesses com mensagens especiais. Em 2016, quando Trump queria dialogar com entusiasta­s de armas, por exemplo, ele produzia postagens específica­s que só atingiam esse nicho.

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RAFAEL ARBEX / ESTADÃO Agenda. Doria em inauguraçã­o de centro de acolhiment­o para pessoas em situação de rua

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