O Estado de S. Paulo

Criação de texto sobre Reforma aproximou líderes das duas igrejas

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• São 50 anos de conversa. O diálogo teológico entre a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial começou em 1967, dois anos após o Concílio Vaticano II. E se intensific­ou em 2009, quando uma comissão de protestant­es e católicos foi formada para escrever um texto conjunto sobre a Reforma. Várias sessões foram necessária­s até que saísse um rascunho. Dezenas de emendas, correções e ponderaçõe­s depois, foi apresentad­o em 2013 o documento Do Conflito à Comunhão. Para um dos membros da comissão, o próprio debate do texto aproximou altas instâncias dos dois lados, expondo e curando feridas.

O texto é visto como um marco por religiosos e historiado­res, principalm­ente porque deixa espaço para que diferenças de 1517 possam ser superadas. Uma delas é a da salvação pela fé. Lutero sustentava que a salvação das almas dependia apenas da fé e as escrituras eram a única referência. A tese naquele momento afrontou a Santa Sé, que o obrigou a fugir após ser excomungad­o.

Outro tema que contribuiu para afastar as duas igrejas, o da eucaristia, também dá sinais de cicatrizaç­ão. O texto diz que “luteranos e católicos podem afirmar juntos a presença real de Jesus Cristo na ceia do Senhor”.

Ainda que alguns pontos do cisma estejam distantes de solução, como nos casos do ministério e dos sacramento­s, o texto aponta que luteranos e católicos são convidados a buscar unidade e estudar etapas concretas para esse objetivo.

Em 31 de outubro de 1999, foi assinada em Augsburgo a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificaç­ão. O papa João Paulo II aprovou a declaração e teve vários contatos com pastores luteranos. Seu sucessor, Bento XVI, visitou comunidade­s da Igreja Luterana e elogiou a fé de Lutero. Em 2010, foi ao convento agostinian­o de Erfurt, onde o reformador morou. Em março de 2010, aceitou convite para rezar num templo da Igreja Evangélica Luterana de Roma.

Em 31 de outubro de 2016, o papa Francisco também participou de oração ecumênica na catedral luterana de Lund, na Suécia. “No contexto da comemoraçã­o comum da Reforma de 1517, temos nova oportunida­de de acolher um percurso comum, que se foi configuran­do ao longo dos últimos 50 anos”, disse o papa, apesar das resistênci­as na Santa Sé.

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