‘SÓ COOPERAÇÃO PODE MANTER AS IGREJAS’
A aliança de protestantes e católicos não ocorre por acaso. Para o historiador Hartmut Lehmann, ela vem diante do risco que o secularismo apresenta à sobrevivência das religiões e influência delas na sociedade.
Por que o interesse de católicos e protestantes em dialogar?
Em primeiro lugar, há cada vez mais casais mistos, de protestantes e católicos na mesma família. Essas pessoas querem ser aceitas nas duas igrejas. Mas há um aspecto maior, que é o da era do secularismo. Vivemos esse período na Alemanha. Só a cooperação de protestantes e católicos pode manter a influência das igrejas na sociedade. Elas só podem existir com cooperação. Isso ocorreu quando líderes dos dois lados resistiram ao nazismo.
500 anos depois do cisma, qual deve ser a mensagem dessa data?
A do ecumenismo. De que é hora de cristãos se olharem nos olhos e darem as mãos. Isso, obviamente, leva ao tema da tolerância. Marcar os 500 anos era uma oportunidade de mostrar que a religião é importante na vida das pessoas e no estabelecimento de comportamentos. Em certa me- dida, há uma descristianização da Alemanha e da Europa.
Até que ponto o debate dos 500 anos se cruza com o da onda de migrações?
A chegada de milhares de muçulmanos é um fator nessa discussão. Os 500 anos ocorrem num momento em que a Alemanha se transforma numa sociedade multirreligiosa.
Entre líderes cristãos, qual o sentimento sobre essa chegada de estrangeiros?
Há dois aspectos. Há um medo real de que, em certos bairros, cristãos se tornem minoria e o ponto de referência passe a ser a mesquita. Mas outro fenômeno é o da recuperação de igrejas cristãs. Parte dos imigrantes africanos e sírios é cristã e deu novo impulso a essas comunidades ao chegarem à Europa, onde igrejas estavam vazias. Além disso, igrejas foram instruídas a socorrer imigrantes. Algo como pôr em prática valores que, por décadas, trataram da ajuda aos mais fracos só na liturgia.