Coração na mão
Não adianta negar: tenho certeza de que hoje muito torcedor estará com o coração na mão. Nem me refiro a seguidores de times na parte de baixo na tabela do Brasileiro. Estes há tanto tempo vivem apreensivos que até se sentem anestesiados com a situação.
A preocupação se acentua no trecho de cima da classificação. O corintiano, por exemplo, é um dos que se encaixam nesse perfil. Até a virada do turno, ria à toa, como se fosse milionário. (Epa, tem muito “fiel” nadando no dinheiro. Não é isso.)
E com razão. A rapaziada de Fábio Carille sobrava na competição e superava adversários com segurança e naturalidade. Abriu vantagem folgada na liderança, e o título parecia questão de rodada mais, rodada menos. Barbada.
A maré virou – não totalmente, mas refluiu. A montanha de pontos em relação aos demais foi desbastada e, na reta final da temporada, crescem sombras de Palmeiras e Santos. Claro que o Corinthians depende apenas de si – e isso é excelente. Porém, dá frio na barriga. Vamos lá, caro amigo alvinegro, diga que não bate mais acelerado esse coração, mesmo que o obstáculo do domingo seja a Ponte Preta? Dá frio na barriga, lombrigas agitam o estômago.
Há consolo e apreensão diante do duelo em Campinas. O aspecto bom: a Macaca anda numa draga de dar dó e pouco assusta. Além disso, a história mostra que se trata de freguesa de carteirinha dos corintianos. Apanha com regularidade em tudo quanto for lugar e torneio. Por que deixaria de manter essa agradável tradição justo agora?
O lado ruim a considerar: com a ameaça de rebaixamento a apertar-lhe o pescoço, precisa desesperadamente de pontos. Quer dizer, tentará entornar o caldo de qualquer jeito. A dúvida: terá competência para tanto? Vai saber. Com oscilação enorme, não é confiável. No segundo turno, foram 6 derrotas (3 nas últimas apresentações), 3 empates e 2 vitórias (diante de Botafogo e Fla). É a antepenúltima.
O que não se sabe, no entanto, é o grau de serenidade de Jô, Jadson, Cássio & Cia. A queda de desempenho no returno salta aos olhos e se reflete nos números: 12 pontos conquistados dos 33 disputados, 11 gols sofridos em 11 jogos, contra 9 em 19 no primeiro turno. O retrospecto conta 5 derrotas, 3 empates e 3 vitórias. Somatório de rebaixamento. Calma, caro leitor alvinegro, o que vale é o total das 38 rodadas. Não é tranquilizador, tampouco alucinante.
Mesmo assim, há sinais de impaciência, e o mais evidente veio no meio da semana, com uma das tradicionais “conversas” com representantes de torcida organizada. Aqueles encontros em que se trata de levar “apoio moral” ao elenco e, ao fim dos quais, jogadores e dirigentes só têm elogios a fazer ao petit comité. Jamais há palavras mais duras, nem cobranças quanto ao empenho dos atletas. É tudo na paz, na camaradagem. (Bom, se fosse jogador ou cartola talvez eu dissesse o mesmo. O vespeiro é buliçoso...)
O risco de novo tropeço existe – e com ele eventual abalo emocional, desastroso para as sete rodadas restantes. Parece contraditório, mas o Corinthians entra em campo mais pressionado do que a Ponte, pois é quem tem muito a perder. Precisa reviver o jogo paciente e meticuloso que o colocou como favorito ao título. Para tanto, depende de peças importantes que despencaram. Com a palavra Fagner, Arana, Rodriguinho, Romero, Jadson, Maycon.
Secando. O Palmeiras passa o fim de semana a torcer contra os rivais, corintianos sobretudo. A equipe encorpou sob o comando de Alberto Valentim e terá prova de fogo amanhã à noite, ao receber o Cruzeiro. Se enfileirar a quarta vitória, projeta sprint fabuloso; talvez não chegue ao bicampeonato, mas certamente fechará o ano de maneira mais digna do que o encarou até um mês atrás.
Não adianta negar: também torcedor corintiano está apreensivo na reta final