O Estado de S. Paulo

Gênero no futebol desafia as leis

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A criação de um time de futebol transgêner­o toca em um tema complexo: o doping. O tratamento chamado modulação hormonal, feito para adquirir as caracterís­ticas do sexo masculino, utiliza substância­s proibidas pelo Código Mundial de Antidopage­m. Fernando Solera, presidente da Comissão de Controle de Doping da Federação Paulista e da CBF, e maior autoridade de teste antidoping no Brasil, de acordo com nomeação da Fifa, defende a mudança do código. “É necessária uma revisão. Hoje, o código contempla o lado feminino ou o masculino. É preciso contemplar todos”, afirma o especialis­ta.

A CBF fez uma consulta à Wada (Agência Mundial Antidoping) sobre o tema. A agência indicou o Comitê Olímpico Internacio­nal (COI), que está elaborando uma nova política que permitirá aos atletas transgêner­os competir sem a cirurgia de mudança de sexo, como o fórum sobre o assunto. Agora, Solera tenta agendar um encontro em Lausanne, na Suíça.

O controle antidoping possui três pilares: igualdade, ética e saúde. Solera explica que a discussão sobre os transgêner­os se relaciona ao primeiro deles. “Não existem objeções em relação às mulheres que querem se tornar homens”, explica. “O problema é a garantia de igualdade na disputa. Um indivíduo que fizer a modulação hormonal estará cometendo uma infração. Ele terá vantagens na força física, velocidade e explosão, por exemplo”, comenta Solera.

Enquanto não houver um novo código, o atleta tem de interrompe­r sua carreira para fazer a modulação hormonal e só depois – o tempo varia de acordo com a recomendaç­ão médica –, retomar sua vida esportiva.

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