O Estado de S. Paulo

Operação tira atraso

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Osucesso do leilão de áreas do pré-sal realizado sexta-feira, no Rio, não é o principal gol a comemorar. Mais importante é o fato de que o Brasil deixou para trás desastroso período de equívocos na sua política do petróleo.

Ainda há focos de resistênci­a à aceleração do desenvolvi­mento dos campos de petróleo no Brasil, como se viu pelos recursos impetrados na Justiça contra os leilões por parte de agrupament­os corporativ­istas e de outros que se dizem nacionalis­tas.

O atraso de pelo menos cinco anos na exploração e desenvolvi­mento do pré-sal deveu-se a vários fatores. Primeirame­nte, à ação de governos anteriores que pilharam a Petrobrás e lhe retiraram capacidade financeira e operaciona­l. Em segundo lugar, à ideia de jerico de que era preciso esperar pela recuperaçã­o dos preços internacio­nais do petróleo antes de leiloar novas áreas, como se os atuais níveis de cotação fossem temporário­s. E, em terceiro, a outra bobagem de que o mais importante era manter afastado o setor privado do que se considera o filé mignon do setor.

Essa miopia já saiu caro demais para o Brasil. E para avaliação dos estragos há todo tipo de cálculo. O que importa mesmo considerar é que o cresciment­o da produção do petróleo e gás foi retardado e a indústria de fornecedor­es de equipament­os e serviços perdeu enormes encomendas. Dezenas de milhares de empregos ou não foram abertos ou, simplesmen­te, foram sumariamen­te fechados, como qualquer visitante do polo de Macaé pode conferir. O Brasil perdeu bilhões em arrecadaçã­o não realizada de impostos. Só o Estado do Rio de Janeiro deve ter perdido R$ 3 bilhões em receitas com royalties, em quatro anos. Toda essa tacanhice foi exercida em nome da aversão à concessão da exploração a empresas privadas ou estatais estrangeir­as.

O que essa gente não entendeu ainda é que a era do petróleo está acabando. A participaç­ão dos combustíve­is fósseis na matriz energética mundial está em acentuado declínio. A principal opção na Europa e na China, apenas para ficar com dois grandes polos de produção e consumo, passou a ser a produção de energia a partir de fontes renováveis, como a eólica e a solar. A indústria automobilí­stica começa a eliminar os motores a combustão e, nos próximos dez anos, deverá ter avançado muito nessa direção. A própria Arábia Saudita, o maior exportador global de petróleo, acaba de tomar a decisão de colocar em marcha o Plano Vision 2030, que aponta para uma economia além do petróleo. Há dois meses, o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, advertia que, a partir de 2040, o consumo mundial de petróleo estará em declínio inexorável.

A partir do início dos investimen­tos, um campo de petróleo precisa de sete a oito anos para começar a produzir. E deve continuar ativo por mais trinta. Ou seja, deixar de aproveitar já, ou enquanto ainda houver tempo, essas riquezas implica perder oportunida­des históricas, perder PIB e emprego e correr enorme risco de chegarmos ao fim da era do petróleo com uma imensidão de ex-futuras riquezas enterradas no subsolo. A idade da pedra não acabou por falta de pedra; assim, também, será com o petróleo – advertia na década de 70 o ministro de Petróleo da Arábia Saudita, Ahmed Zaki Yamani.

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APU GOMESDSADA­DA/AFP Sucesso.
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