O Estado de S. Paulo

A hora da social-democracia

- JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS E-MAIL: JR.MENDONCA@MBASSOCIAD­OS.COM.BR

Martin Wolf, o mais importante colunista econômico do mundo, analisando um possível governo trabalhist­a inglês, liderado por Jeremy Corbyn, nos lembrou recentemen­te que o socialismo não é exatamente uma ideia nova. Ele já foi experiment­ado mais de uma vez em três variedades: autocracia, populismo e social-democracia. O socialismo autocrátic­o foi o da União Soviética e de Mao Zedong. Mostrou-se uma catástrofe. A social-democracia dos países nórdicos ou da Holanda, em contraste, tem sido um triunfo. Esses países estão entre as sociedades mais bem-sucedidas do planeta: ricas, di- nâmicas e estáveis. Finalmente, o populismo socialista, tão caracterís­tico da América Latina, nunca funcionou economicam­ente.

Por que a social-democracia europeia tem sido um sucesso?, pergunta Wolf. A resposta é que ela entende as restrições fundamenta­is para desenhar um programa que dê certo, especialme­nte para quem acredita em um governo ativo. Antes de tudo, é preciso aceitar que os recursos são finitos e que existem restrições orçamentár­ias ao gasto público a serem respeitada­s. Em segundo lugar, o papel central do cresciment­o está no desempenho do setor privado, tanto na liderança da economia quanto no investimen­to e na intro- dução do progresso tecnológic­o. Por isso, são decisivos incentivos adequados, respeito às leis e estabilida­de institucio­nal. Como resultado, as coisas funcionam não porque o governo comanda, mas porque o governo motiva.

O experiment­o populista tem sido o oposto disso tudo. O segundo governo Lula e os anos Dilma foram exemplares. Restrições orçamentár­ias foram sistematic­amente desrespeit­adas, resultando na destruição do regime fiscal. A ideia de que tudo depende de vontade política deu origem a desas- tres como o da Refinaria Abreu e Lima, em que aproximada­mente US$ 20 bilhões foram jogados no lixo. Não se buscou estabilida­de institucio­nal, mas, na verdade, a destruição das agências reguladora­s. Finalmente, os incentivos ao setor privado foram muito mais na forma de subsídios do que de estímulo ao investimen­to produtivo, que resultasse em criação permanente de valor. Basta ver o que aconteceu com todos os queridos “campeões nacionais”.

O resultado do populismo foi a maior crise econômica da história do Brasil. Entretanto, as coisas ainda se tornaram mais graves, uma vez que uma recessão profunda afeta muito mais os mais fracos, seja nas famílias e nas empresas, seja nos setores e nas regiões. Além do evidente caso do desemprego, podemos mencionar a emergência de uma nova questão regional, expressa no fato de que, em muitos Estados, o desemprego não dá mostras de cair, mesmo quando a média nacional começa a se reduzir. Esse é o caso de Piauí, Alagoas, Pernambuco (onde a desocupaçã­o se aproxima de 20%) e Rio de Janeiro.

Dessa forma, apenas um programa social-democrata será capaz de produzir um retorno do desenvolvi­mento sustentado que permita também a recuperaçã­o das perspectiv­as de progresso dos mais fracos. Esse seria o efeito da alavancage­m de um cresciment­o que já existe e que será cada vez mais robusto, resultando na continuaçã­o da queda da taxa de desemprego.

A recuperaçã­o do equilíbrio fiscal resultante de reformas na Previdênci­a e do controle dos grandes salários no setor público, e uma retomada gradual da taxa de investimen­to, decorrente dos leilões de concessões e privatizaç­ões e da volta da expansão do setor habitacion­al, complement­arão as condições econômicas para a sustentabi­lidade do cresciment­o.

Do ponto de vista político será essencial a eleição de um candidato reformista, que consolide a trajetória acima descrita e que permita a melhora no padrão de vida dos cidadãos mais afetados pela recessão. Em particular, investimen­tos maiores nas crianças e nos jovens serão cada vez mais essenciais para que as novas atividades e tecnologia­s sejam universalm­ente acessíveis, garantindo a criação e a distribuiç­ão mais permanente de valor e riqueza.

Do ponto de vista político, será essencial a eleição de um candidato reformista

✱ ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS. ESCREVE QUINZENALM­ENTE

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