O Estado de S. Paulo

‘Homens foram o sexo frágil da novela da Gloria’

Diretor de ‘A Força do Querer’ saboreia sucesso e curte o elogio da filha de Jorge Amado à sua Flor: ‘Foi um alívio’

- / L.C.M.

Seu nome completo é Pedro Vasconcelo­s de Brito Pereira, mas artisticam­ente é só Pedro Vasconcelo­s. Pedro é o homem. Mal acabou a novela A Força do Querer, da qual foi diretor-geral, e já está estreando sua versão de Dona Flor e Seus Dois Maridos. Filme e novela são estrelados por Juliana Paes. “Já queríamos a Juliana há dez anos, quando a peça estreou, mas ela não podia. Fazer o filme com a Juliana foi voltar à origem”, explica. Dona Flor estreia primeiro no Nordeste e só no final de novembro chega ao centro do País.

Se tudo der certo e Dona Flor permanecer em cartaz, Vasconcelo­s estará concorrend­o com ele mesmo no cinema. Ainda em 2017 – 28 de dezembro – estreia

Fala Sério, Mãe!, que ele também dirigiu, com Ingrid Guimarães. Vasconcelo­s sabe da responsa que é fazer um filme com uma figura como Flor, que está no imaginário do espectador brasileiro. O longa de Bruno Barreto, de 1976, com Sonia Braga só foi superado recentemen­te – por

Tropa de Elite 2 – como maior bilheteria do cinema brasileiro. “Em termos porcentuai­s, segue sendo ( a maior bilheteria)”, esclarece o diretor. “No final dos anos 1970, quando foi visto por 10 milhões de brasileiro­s, o Brasil tinha 90 milhões de habitantes. Hoje, mais que duplicou.”

Por que o filme? “Começou com a peça. Você não mexe impu- nemente com o universo do Jorge Amado. Ele mexe com a gente. E eu acho que, no fundo, é bem simples – gosto tanto do livro, da personagem, que acho que o filme faz parte de um esforço nosso para dar continuida­de e divulgação ao que é tão baiano e brasileiro.” Ele sabe que é difícil não comparar e o filme de Bruno Barreto é um clássico, mas arrisca algumas interpreta­ções. “Sou o maior fã do filme ( de Barreto), mas lá, de alguma forma, de tão potentes os atores se superpunha­m à história. Com meus atores eu quis servir à história, que é o mais importante.” A estreia em Salvador, na segunda, 23, à noite, foi o maior sucesso. “Fiquei muito feliz quando a Paloma, filha do Jorge, me disse que não esperava uma Flor tão forte quanto a da Juliana. Pra todos nós, foi um grande elogio, e um alívio.”

Vasconcelo­s ainda saboreia o sucesso de A Força do Querer. “Gloria Perez é uma grande autora de novelas. Cria universos grandiosos, com muitos perso- nagens. Foi assim em O Clone, Caminho das Índias. Mas em A Força do Querer, tenho a impressão de que a Gloria deu uma marcha à ré e voltou ao tempo de Bar- riga de Aluguel. Foi uma novela com personagen­s mais concentrad­os e que ficaram muito fortes. O público embarcou.” Mulheres fortes, homens fracos. “Cara, eram uns bananas. O sexo frágil da novela. Nossa sorte foi termos tido atores que também embarcaram. O Dan ( Stulbach) me dizia que não ia criticar o personagem dele nem subverter o texto para ficar mais forte.”

Bibi foi glamouriza­da? “Essas mulheres do asfalto seduzidas pelo morro existem e são numerosas. Não creio que a Gloria tenha glamouriza­do. O texto dosava prós e contras para ser realista.” Justamente o realismo. “Estávamos gravando explosões de violência na nossa favela quando houve a invasão da Rocinha. O público podia cotejar a realidade e a ficção no Jornal Nacional e na novela.” O triângulo de Ritinha, a trans, tudo contribuiu para a força e atualidade da novela. “Todo mundo fez na maior paixão, e o público percebeu isso.”

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PEPE SHETTINO ‘Dois Maridos’. Leandro Hassum, Juliana e Marcelo Faria

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