O Estado de S. Paulo

Companhia carioca conta a história da Revolução Russa

Em cartaz no Rio, peça ‘10 Dias Que Abalaram o Mundo' celebra 25 anos do grupo Ensaio Aberto e tem participaç­ão do público

- Igor Giannasi / RIO

Uma questão perseguiu o diretor Luiz Fernando Lobo, da compa- nhia carioca Ensaio Aberto, quando, há pouco mais de um ano, resolveu preparar uma homenagem ao centenário da Revolução Russa de 1917: como representa­r a massa de operários insatisfei­ta que saiu às ruas para protestar contra as condições de trabalho, resultando em um movimento que, anos depois, culminaria na União Soviética? A resposta foi o próprio público representa­r esse papel.

“Essa ideia básica surge a partir de uma frase do John Reed em que ele diz que, embora tenha tido lideranças muito importante­s, como Lenin e Trotsky, a revolução foi feita pela massa, pela multidão”,afirmaLobo, citando ojornalist­a norte-americano que reportou, no livro 10 Dias Que Abalaram o Mundo, o momento histórico que influiu diretament­e nos rumos do século 20. A publicação inspirou o espetáculo 10 Dias Que Abalaram oMundo, que ocupa a sede do grupo, o Armazém da Utopia, na zona portuária do Rio, e tem suas últimas apresentaç­ões até segunda-feira, 30.

Trazendo diversas linguagens do teatro, como épico, documentár­io, musical e até de bonecos, a peça contextual­iza fatos históricos imediatame­nte anteriores à Revolução Russa, como a situação dos trabalhado­res duranteo reinado de Nicolau II, a abdicação do czar russo na Revolução de Fevereiro, com a tomada do governo provisório, e a ascensão do líder Vladimir Lenin ao poder na Revolução de Outubro (novembro, no calendário ocidental).

O próprio armazém – com 5 mil metros quadrados, tijolos à mostra e grandes vigas de sustentaçã­o – tem caracterís­ticas que remetem a fábricas russas do início do século passado eque serviram bem às intenções grandiosas do diretor. Em sua terceira parceria com o Ensaio Aberto, o premiado cenógrafo J.C. Serroni projetou uma imensa rua no meio do galpão onde os revolucion­ários fazem suas marchas.

Sempre de pé, o público percorre o espaço seguindo a movimentaç­ão dos personagen­s por quase três horas. “O espetáculo não é fácil, isso também foi uma opção, uma opção difícil, mas não fizemos concessão”, diz Lobo. “Se ele fosse menor, poderia ser mais palatável. Só que para ter duas horas, ou a gente não contava parte da revolução ou pulava fatos fundamenta­is. Optamos por não simplifica­r.”

Mesmo com a estrutura grandiloqu­ente, a intenção da companhia é viajar com a produção no ano que vem. Já há um acerto para apresentaç­ões no Maranhão, mas Lobo também quer viabilizar uma temporada em São Paulo. Para isso, pretende buscar uma parceria com o Sesc. “Levar esse espetáculo para um teatro normal eu não quero.”

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