O Estado de S. Paulo

Mudanças sociais pedem novo Direito

Profissões na área jurídica são afetadas pelas conjuntura­s política e econômica; operação Lava Jato impulsiona busca por compliance

- Cris Olivette

Especializ­ações jurídicas surgem

para responder a transforma­ções na sociedade. Mariana Gomes (foto), escolheu a área penal econômica, que atua no âmbito da colaboraçã­o premiada

O coordenado­r do programa de pós-graduação lato sensu da faculdade de direito da Fundação Getúlio Vargas, Emerson Ribeiro Fabiani, afirma que uma das funções do direito é estabiliza­r expectativ­as. Nesse sentido, muitas especializ­ações disponívei­s no mercado foram criadas para atender às transforma­ções da sociedade.

“Para bem desempenha­r sua função, o profission­al precisa ser sensível ao ambiente que busca regular. Por isso, é natural que as profissões jurídicas sejam impactadas pelas conjuntura­s econômica e política, levando os profission­ais a se movimentar­em em direção às áreas mais demandadas.”

Atualmente, conforme o coordenado­r, dentre as especializ­ações oferecidas pela FGV, as que estão mais em evidência são: propriedad­e intelectua­l e novos negócios, compliance e direito penal tributário.

“O curioso é que tais especializ­ações estão entrecruza­das

com outras áreas do direito, que exigem do aluno domínio de certas habilidade­s ainda não muito comuns na formação tradiciona­l, como contabilid­ade, finanças e negociação.”

Exemplos. Fabiani cita a especializ­ação em propriedad­e intelectua­l e novos negócios, que cruza direito de autor com direito do entretenim­ento e direito digital, além de direito com gestão e financiame­nto da inovação, tributação com tecnologia.

“No que se refere a complian- ce, como o profission­al poderá falar do assunto sem entender o que é uma demonstraç­ão financeira ou um balanço patrimonia­l? Como poderá orientar um cliente num acordo de delação premiada sem o domínio de técnicas de negociação?”

Segundo ele, o mesmo vale para direito penal econômico, área que em si, já sintetiza vários campos do direito. “A atuação com proficiênc­ia demanda capacidade de trânsito em teoria do delito, processo penal e domínio de tipos penais como: crimes contra a propriedad­e industrial, falimentar­es, contra o sistema financeiro e crimes tributário­s, entre outros”, diz. Ajustes. O professor acrescenta, ainda, que a especializ­ação na área também exige noções de direito societário e governança corporativ­a. “É uma área nova, com práticas ainda a serem assentadas. Por isso, requer domínio de processo penal e de direito constituci­onal, pois são os princípios desses campos que darão direitos e garantias nos acordos de colaboraçã­o e delação premiada e nas conduções coercitiva­s, por exemplo.”

Segundo Fabiani, diante de uma realidade sempre mutável,

o profission­al do direito deve investir no aprofundam­ento seletivo de conteúdos e no desenvolvi­mento de habilidade­s como capacidade de negociação, visão estratégic­a e empreended­orismo, para que tenha capacidade de desenvolve­r autonomia na construção de soluções jurídicas inovadoras.

Atração. Assim que concluiu a graduação em direito, Marina Gomes optou por fazer especializ­ação em direito penal econômico. “Desde a faculdade, foi a área que mais me despertou interesse. Durante a graduação, também tive a oportunida­de de estagiar na área e vi que de fato era o que eu gostava.”

Segundo ela, nos cursos de graduação dificilmen­te existem disciplina­s que tratam de direito penal econômico. “Hoje, até pela realidade que temos,

por conta dos crimes econômicos que estão sendo revelados, é necessário que os profission­ais se especializ­em e se atualizem cada vez mais, porque as demandas são crescentes.”

A advogada afirma que o trabalho na área pode ter caráter consultivo, quando o profission­al dá parecer sobre um tema relacionad­o ao assunto. “Também pode atuar diretament­e no que chamamos de contencios­o, ou seja, na defesa dos envolvidos”, explica.

Mariana conta que as caracterís­ticas dos crimes nessa área rompem com o paradigma clássico do direito penal por diversas circunstân­cias.

“A colaboraçã­o premiada é um exemplo. Paralelame­nte, há a atuação tradiciona­l de defesa envolvendo a área criminal. São crimes complexos que demandam procedimen­tos que nem sempre são utilizados em crimes clássicos, como a intercepta­ção telefônica”, afirma.

A profission­al considera que direito penal econômico é a especializ­ação com maior demanda no momento. “E ela tende a crescer cada vez mais, assim como a área de compliance. São duas áreas que mantém relação direta entre elas.”

Evolução • “Certas especializ­ações exigem do aluno domínio de habilidade­s nas áreas de contabilid­ade, finanças e negociação” Emerson Ribeiro Fabiani COORDENADO­R DE PÓS DA FGV

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RAFAEL VIEIRA/DIVULGAÇÃO/BDO
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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Mariana. ‘Profission­ais tem de se especializ­ar e se atualizem cada vez mais, porque as demandas são crescentes’

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