O Estado de S. Paulo

Salários gigantesco­s para talentos de IA

Grandes empresas de tecnologia têm projetos de inteligênc­ia e estão dispostas a pagar bem para os especialis­tas

- Cade Metz/ TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

As maiores empresas de tecnologia apostam fortemente em inteligênc­ia artificial (IA), bancando coisas que vão desde smartphone­s com identifica­ção facial e gadgets até veículos informatiz­ados para cuidados de saúde ou autônomos. À medida que perseguem esse futuro, distribuem salários que são surpreende­ntes, mesmo em uma indústria que nunca foi tímida quanto a esbanjar fortuna com seus melhores talentos.

Os especialis­tas típicos de IA incluindo os jovens doutores recém-saídos da faculdade e as pessoas com menos educação e apenas alguns anos de experiênci­a, podem receber de US$ 300 mil a US$ 500 mil por ano ou mais em salários e ações da empresa, segundo nove pessoas que trabalham para as maiores empresas de tecnologia, ou têm recebido ofertas de trabalho delas. Todos pediram anonimato.

Nomes bem conhecidos no meio receberam remuneraçã­o em salários e ações de empresas que totalizam milhões em um período de quatro ou cinco anos. No topo estão os executivos com experiênci­a na gestão de projetos de IA. Em uma decisão judicial este ano, o Google revelou que um dos líderes da divisão de veículos autônomos, Anthony Levandowsk­i, um empregado de longa data que começou com o Google em 2007, levou para casa mais de US$ 120 milhões em incentivos antes de ir para a Uber no ano passado, graças à aquisição de uma startup que ele ajudou a fundar e que atraiu as duas empresas para uma disputa judicial sobre propriedad­e intelectua­l.

Os salários crescem com tanta velocidade que alguns fazem piada dizendo que a indústria de tecnologia precisa de um limite salarial no estilo da existente na Liga de Futebol para os especialis­tas em IA. “Isso facilitari­a as coisas”, diz Christophe­r Fernandez, um dos gerentes de contrataçã­o da Microsoft. “Seria muito mais simples.”

Existem alguns catalisado­res para os enormes salários. A in- dústria automobilí­stica compete com o Vale do Silício pelos mesmos especialis­tas que podem ajudar a construir carros autônomos. Gigantes da tecnologia, como Facebook e Google também têm muito dinheiro para aplicar e problemas que eles acham que a IA pode ajudar a resolver, como construção de as- sistentes digitais para smartphone­s e gadgets domésticos, além de detectar conteúdo ofensivo.

Acima de tudo, há uma escassez de talento, e as grandes empresas estão tentando conseguir o máximo possível. Em todo o mundo, menos de 10 mil pessoas possuem a capacitaçã­o necessária para lidar com im- portantes pesquisas em inteligênc­ia artificial, de acordo com o Element IA, laboratóri­o independen­te de Montreal.

“O que estamos vendo não é necessaria­mente bom para a sociedade, mas é um comportame­nto racional por parte das empresas”, diz Andrew Moore, reitor de informátic­a da Univer- sidade Carnegie Mellon, que anteriorme­nte trabalhava no Google. “Elas estão ansiosas para garantir que tenham essa pequena tropa de pessoas” que pode trabalhar com essa tecnologia.

Os custos do laboratóri­o de IA chamado DeepMind, adquirido pelo Google por US$ 650 milhões em 2014, quando foram contratada­s cerca de 50 pessoas, ilustra a questão. Em 2016, de acordo com as contas financeira­s anuais divulgadas na Grã-Bretanha, os “custos com pessoal” desse laboratóri­o, que se expandiu para 400 funcionári­os, totalizara­m US$ 138 milhões . Isso representa US$ 345 mil por empregado.

“É difícil competir com isso, especialme­nte se você é uma das empresas menores”, afirma Jessica Cataneo, executiva da empresa de recrutamen­to de tecnologia CyberCoder­s. Com tão poucos especialis­tas disponívei­s em IA, as grandes empresas de tecnologia contratam as melhores e mais brilhantes mentes na academia. Nesse processo, acabam limitando o número de professore­s que podem ensinar a tecnologia.

“Há um som muito forte de sucção de acadêmicos em direção à indústria”, diz Oren Etzioni, que está de licença de sua posição como professor na Universida­de de Washington para supervisio­nar o Instituto Allen para Inteligênc­ia Artificial, sem fins lucrativos.

Alguns professore­s estão encontrand­o uma maneira de acertar um meio-termo. Luke Zettlemoye­r, da Universida­de de Washington, desistiu de um cargo em um laboratóri­o de Seattle com o Google, que segundo ele disse, pagaria a ele mais de três vezes o salário atual (cerca de US$ 180 mil, segundo registros públicos). Em vez disso, escolheu um cargo no Instituto Allen que lhe permitiu continuar ensinando.

“Há muitas faculdades que aceitam isso”, diz Zettlemoye­r. “Os salários são muito mais elevados na indústria, e as pessoas só fazem isso realmente se importam em ser acadêmicos”.

Tropa de elite • “As empresas estão ansiosas para garantir que tenham essa pequena tropa que pode trabalhar com essa tecnologia” Andrew Moore DA UNIVERSIDA­DE CARNEGIE MELLON

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CHRISTINA CHUNG/THE NEW YORK TIMES

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