O Estado de S. Paulo

Memória afetiva

Instalada em um edifício futurista de Norman Forster, Casacor Rio mergulha nas águas tranquilas do passado.

- Marcelo Lima / REPORTAGEM

Antes de ser elevado à categoria de ‘cool’, o Meatpackin­g District, de Nova York – bairro que vai das margens do rio Hudson até a Hudson Street e da rua 16 até a Gansevoort – não tinha nada de glamouroso. Sede de matadouros e empacotado­ras de carne(daí seu nome) no começo do século passado e distrito industrial, desde os anos de 1960, o cenário por lá era de total decadência até a virada do milênio, quando tudo começou a mudar.

Atraídas pelos baixos aluguéis, boutiques e galerias começaram a se instalar por lá. Hoje, passadas duas décadas, a região é uma das mais valorizada­s da cidade. Convertido­s

em lofts, galpões desativado­s deram origem a um novo estilo de morar e passaram a atrair moradores endinheira­dos, além de uma legião de admiradore­s mundo afora.

Assim como Nova York, o Rio de Janeiro persegue o mesmo objetivo. Para levar vida e dinamismo à sua zona portuária, uma das regiões mais degradadas, mas, ao mesmo tempo, mais promissora­s da cidade, o Rio vem investindo pesado em renovação urbana. Edifícios tec- nologicame­nte avançados, assinados por grandes nomes da arquitetur­a internacio­nal, como o Museu do Amanhã, do espanhol Santiago Calatrava, começam a transforma­r a paisagem local e outros estão a caminho.

“O projeto de revitaliza­ção, que se iniciou há sete anos, prevê uma ocupação mista, baseada em trabalho, cultura e moradia. Na sua missão de refletir o estilo de vida carioca, a Casacor Rio não poderia ficar alheia a esse movimento”, afirma Patricia Mayer, sóciadiret­ora da mostra, que este ano ocupa quatro pavimentos do recém-inaugurado, AQWA Corporate, edifício que leva a assinatura do inglês Norman Forster (ver pág. 15).

“A arquitetur­a do prédio, com suas linhas simples, sem excessos, vem ao encontro de nossa proposta de discutir o que é essencial para se viver bem”, observa Patricia Quentel, também diretora da mostra. Em sua 27ª edição, Casacor reúne 41 ambientes: são sete lofts com dimensões que vão de 69 a 99 m², quatro estúdios, de 51 a 62 m², seis espaços de convivênci­a, instalaçõe­s comerciais e de lazer, além de uma cozinha gourmet, distribuíd­os, em sua maioria, na cobertura do pré-

dio, a 85 m de altura, com vistas para o mar e para a cidade. Uma condição que não poderia passar mesmo despercebi­da aos arquitetos participan­tes, assim como o generoso pé-direito e os amplos panos de vidro.

“Criamos um apartament­o para quem procura não só um dormitório e sim uma experiênci­a. Daí a ideia de criar molduras sem telas. Assim, dependendo do ângulo e ponto de vista do visitante, a paisagem vai sendo enquadrada de maneira diferente dando origem a quadros mutantes”, explica Mário Santos, autor do estúdio Ilha Alta. “O pé-direito duplo nos permitiu criar um jirau, aumentando a área total de 49 m² para 80 m²”, explica André Piva, que assina

com Vanessa Borges o Espaço Lumina. Interessan­te notar que se por um lado a locação determinou muitas escolhas dos arquitetos, por outro, não interferiu nas suas opções estéticas. O estilo industrial, aplicado aos inte- riores domésticos, se faz sentir com maior ou menor intensidad­e, em quase todos os ambientes. Mas sempre dentro de uma abordagem suave e afetuosa, no melhor estilo carioca. “Meu lounge é um lugar de acúmulo de memórias”, revela Patricia Fendt, que assina um espaço inspirado nos ‘gabinetes de curiosidad­es’. Um toque de irresistív­el nostalgia em cartaz até o dia 30 de novembro no gigante de aço e vidro projetado por Forster na Guanabara. Confira.

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FOTOS: ANDRE NAZARETH Loft Cosmopolit­a, ambiente do Coletivo SARTORE Arquitetur­a etc
 ??  ?? Refúgio do Consultor de Arte, projetado pelo Studio 021 Arquitetur­a
Refúgio do Consultor de Arte, projetado pelo Studio 021 Arquitetur­a
 ??  ?? Vista da escada que leva ao quarto no mezanino do Espaço Lumina, ambiente de André Piva e Vanessa Borges, e, à esquerda vista da sala de estar
Vista da escada que leva ao quarto no mezanino do Espaço Lumina, ambiente de André Piva e Vanessa Borges, e, à esquerda vista da sala de estar
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FOTOS: ANDRE NAZARETH
 ??  ?? Estúdio Box 21, da Beta Arquitetur­a. À esquerda banheiro dentro de uma caixa envolta em vidro
Estúdio Box 21, da Beta Arquitetur­a. À esquerda banheiro dentro de uma caixa envolta em vidro
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 ??  ?? Ap. Y, do Studio MH Arquitetur­a; à direita, o mutante Estúdio Escritor, de Caroline Taveira, Mariana Barbosa e Barbara Schwartz; e, abaixo, a Ilha Alta, de Mario Santos
Ap. Y, do Studio MH Arquitetur­a; à direita, o mutante Estúdio Escritor, de Caroline Taveira, Mariana Barbosa e Barbara Schwartz; e, abaixo, a Ilha Alta, de Mario Santos
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Lof (U), do Studio Ro+Ca, à direita o banheiro do Loft (U) que fica dentro de um cubo
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FOTOS: ANDRE NAZARETH
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 ??  ?? estofament­o desliza sobre o bloco de concreto no Espaço Tem.po, de Luiza Bottino e Valeska Ulm. À direita, o SPA Deca, de Paola Ribeiro
estofament­o desliza sobre o bloco de concreto no Espaço Tem.po, de Luiza Bottino e Valeska Ulm. À direita, o SPA Deca, de Paola Ribeiro
 ??  ?? Lounge Tiffany&CO, projeto de Joy Garrido. À direita, o Espaço Colab, de Paula Neder e Luiz Fernando Grabowsky
Lounge Tiffany&CO, projeto de Joy Garrido. À direita, o Espaço Colab, de Paula Neder e Luiz Fernando Grabowsky
 ?? FOTOS: ANDRE NAZARETH ?? c As piscinas do Pool Lounge, de Fabio Bouillet, Rodrigo Jorge, Karyne Lima e Guilherme Portugal, são todas na cor preta
FOTOS: ANDRE NAZARETH c As piscinas do Pool Lounge, de Fabio Bouillet, Rodrigo Jorge, Karyne Lima e Guilherme Portugal, são todas na cor preta
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b Observatór­io, de David Bastos. À esquerda, o Skyline Bar, de Caco Borges e Mauricio Prochnik
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