O Estado de S. Paulo

Estrangeir­os aprovam a escola brasileira

Alunos que vieram morar no País estranham mais questões culturais do que sistema de ensino. Também aprendem logo o sentido de saudade, sentimento que têm em relação a antigos amigos

- Luciana Alvarez ESPECIAL PARA O ESTADO

A mudança de escola foi o menor dos problemas para peruana Fabianna Rios, de 13 anos, quando ela se mudou com a família para o Brasil. Ela chegou em maio, sem saber nada de português, mas apesar do pouco tempo já está aprendendo a usar uma palavra muito querida dos brasileiro­s: saudades. “Estou feliz morando no Brasil, só sinto mesmo é saudades dos meus amigos”, conta. A distância, contudo, é amenizada pelo contato que mantém com eles via redes sociais.

A adaptação à escola foi abrandada por ela ter trocado um colégio internacio­nal no Peru por outro também internacio­nal no Brasil – aqui, estuda na Escola Internacio­nal de Alphaville, na Grande São Paulo. Como ambos seguem o programa americano, Fabianna sentiu pouca diferença, seja na rotina de estudos, horários e regras, seja na forma que os professore­s trabalham dentro sala de aula. “Aqui as aulas de Ciências são mais complexas e também têm muita tecnologia. Mas já me acostumei e estou gostando desse jeito. O restante é bem parecido.”

Por ser uma escola internacio­nal, nem o idioma foi um empecilho para entender as aulas ou fazer novas amizades. “As pessoas foram bem abertas, todo mundo interage. No começo, eu conversava com meus colegas em inglês, o que me ajudou muito. Mas agora falamos em português, para eu poder aprender melhor”, diz a estudante, que já fala português com desenvoltu­ra.

Tampouco para o espanhol Tomás Ruiz, de 15 anos, a nova escola tem sido o grande desafio de adaptação. Vindo de Barcelona, o aluno estranha mes- mo é o caos da vida paulista, o que o faz sentir saudades. “A cidade de São Paulo em si é difícil. As ruas têm muita gente, muito carros, os edifícios são muito altos”, enumera o espanhol. A troca de país fez ainda com que perdesse certa liberdade: em Barcelona podia ficar até de madrugada na rua com os amigos; em São Paulo, por causa da segurança, a mãe não permite que fique fora depois das 20 horas.

As questões urbanas, porém, influencia­m na rotina de estudos. “Em Barcelona, eu levava 10 minutos a pé para a escola. Ia e voltava sozinho e ainda saía com os amigos para almoçar fora da escola. Aqui, vou de perua e fico uma hora no trânsito. Nos dias em que as aulas começam às 7 horas, preciso acordar às 5 horas”, reclama ele. Segundo Tomás, depois de perder muito tempo no trânsito, também é mais difícil ter ânimo para estudar e fazer a lição em casa.

Mas, quando se trata das questões acadêmicas, Tomás, que estuda no bilíngue Colégio Miguel de Cervantes, na zona sul de São Paulo, só tem elogios. “Em Barcelona, eu estudava numa escola religiosa, com um ensino muito tradiciona­l. Os professore­s daqui, na maioria, são melhores e mais amigáveis. Eles passam muitas atividades diferentes, as aulas têm mais variação”, relata.

Apesar de gostar da metodologi­a, Tomás diz que o modelo é bem exigente e não tem sido fácil conseguir boas notas em algumas disciplina­s. Língua portuguesa e produção de texto, obviamente, são tidas por ele como as mais difíceis. A surpresa, porém, é ele considerar que o ensino de espanhol daqui é mais difícil do que em sua escola catalã. “Todo mundo pensa que eu, por ter nascido na Espanha, teria de tirar 10. Mas minha média está por volta do 6. Estava acostumado a falar o espanhol de Barcelona, que tem algumas formas diferentes do espanhol cobrado na escola agora.”

 ?? RAFAEL ARBEX/ESTADÃO ?? FABIANNA RIOS
peruana aluna em Alphaville
RAFAEL ARBEX/ESTADÃO FABIANNA RIOS peruana aluna em Alphaville

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil